quinta-feira, 26 de maio de 2016

Correio

Queria te escrever uma vez pra dizer que está tudo bem, que estou em paz. Que fiz planos e eles correram bem, e que mesmo devagar as coisas vão bem. Queria poder te escrever e te contar de uns sorrisos bobos que por ventura eu teria tido, e como eu tenho visto muito o céu e que meus dias foram cheios de brisas suaves e tranquilas. Queria poder te contar que eu tenho deixado as coisas fluírem com mais calma, que eu não tenho pensando tanto em coisas futuras e que não tenho deixado tudo pesar tanto sobre a minha cabeça e meus ombros. Que eu finalmente aceitei meu jeito errado de ser e que já não me acho tão por fora de tudo e todos. Mas a verdade é que nada disso aconteceu. As coisas não vão bem, e me sinto como se afundasse num mar tempestuoso de derrotas. A verdade é que meus planos parecem fazer cada vez menos sentido e são tão frágeis que duram menos que uma semana. Eu tenho corrido feito louca pra acompanhar um mundo que nem sequer nota minha presença e que eu sorrio só pra não ter que dar explicações que eu sei que, na verdade, mundo nenhum quer ouvir. A verdade é que nem mais a ideia de céu me dá paz, porque ele me parece alto e inalcansavel demais, como tudo na vida. Sinto como se estivesse sentada no fundo do poço e mesmo que ainda consiga ver distante um céu estrelado, ele me da raiva, e magoa, porque parece ser outro mundo, algo que não me pertence e do qual nunca terei direito. As coisas não fluem e a ideia de qualquer futuro me deprime e me machuca e me faz sentir uma angustia sem tamanho. Mas a pior das verdades é que ainda não consigo conviver só comigo, que ainda acho tudo isso minha culpa, que ainda tenho raiva de ser tão aérea, tão confusa, tão insegura. Que eu, de alguma forma, cause a mim mesma essa solidão e que talvez, só talvez, eu a mereça. 

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Não sei mais rimar, mas ainda sinto muito.

Não sei 
em que parte do caminho 
eu comecei 
a ter medo de querer

 Mas eu tenho. 

 medo 
de querer demais 
como sempre quis 
por querer tanto 
não ser 

suficiente. 

Parece que eu desaprendi 
a caber
num abraço 
num espaço 
qualquer. 

Grande demais 
ou 
insignificante demais, 
não sou mais 
da medida
de nada 
ou 
ninguém.