terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A Maria tão Maria.

Maria andou dando uns tropeços na vida, é bem verdade. Maria que só sorria, viu que a vida não era rosa da cor da flor preferida, nem tão doce como o doce da tia da esquina. E a verdade, seja ela qual for, machucou nossa Maria, deixando a menina que tudo sentia demais, ressentida e tristonha da vida. A Maria da gente, guardou os dentes cheios de risada, e já que só andava levando rasteira, fez foi vestir a dor, já que agora vivia se sujando de magoa quando caia. 
Mas a Maria tem uma coisa dentro dela, que sei não, viu. Coisas de Maria. Um dia ela levantou tão certa das coisas, que não teve destino, não teve  acaso ou caso nessa vida nenhuma que fizesse a moça dar trás. Tava decidida. Maria, minha gente, foi acreditar (E acreditando a gente torce pra Maria ensinar pra gente como faz pra não duvidar). 

Das profundidades.

Ela olha por todos os lado e se sente cansada de ver tanta gente. Ela não quer mais olhar pra trás à procura de algo que se perdeu no meio do caminho. Nem tão pouco se sente a vontade de olhar pra frente, a procura de algo que talvez cruze seu caminho. Cansada, ela olhou pra dentro. Mas lá só havia uma escuridão tão grande e tão profunda, que ela não soube como voltar. Permaneceu do lado de dentro. Desapareceu dentro de si mesma. Não houve pedido de socorro ou resgate. E ninguém percebeu.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Da ultima carta.

Oi.

Sabe, eu tenho pensando esses dias, sobre despedidas. E então eu me lembrei de quando eu peguei aquele avião que mudou a minha vida. Eu não chorei sabe? Enquanto eu subia as escadas do avião, sentava, colocava os cintos, e olhava a aeromoça dizer aquelas coisas de sempre, eu não chorei. Eu estava pausada. Como a minha vida estava naquele momento. Você não foi ao aeroporto. Você não atendeu minha ligação de adeus. E eu não pude me despedir de ti. E ali, naquele avião, sozinha, eu embarquei com uma solidão que seria minha pelos próximos 18 meses. E eu não chorei. Mas acontece que desse dia pra cá, muita coisa mudou aqui dentro. Tanta coisa! Coisas que você fez questão de não acompanhar. Porque você não quis dividir comigo minhas alegrias ou tristezas.
Como te disse, eu tava pensando em despedidas. Acho que eu não chorei naquele dia, porque naquele dia eu apenas me despedi de mim. E eu não estava triste por deixar pra trás quem eu era. Pra ser sincera, eu não gostava de quem eu estava me tornando. Eu ainda não gosto muito, sabe, mas eu aprendi a aceitar o que não se pode mudar e mudar o que é permitido. Acho que quando eu subi naquele avião, eu não sabia, nem fazia ideia, mas eu tava pausando a minha vida pra poder aprender a me perdoar. Eu tava muito pesada sabe? E eu aos pouquinhos eu fui fazendo isso, me perdoar, me aceitar. Engraçado, né? a gente acaba se achando no meio de tanta solidão. E se entendendo. 
Mas isso foi apenas eu. Comigo mesma, fazendo as pazes. Mas eu fui incapaz de me despedir de ti. Estranho, isso. Eu me desapeguei de tanta coisa. De um país. De uma vida. De um bando de pensamento inútil que eu tinha. E não me desapeguei de ti. 
Só que eu outro dia, enquanto conversávamos, tive que te ouvir dizer que só estavas na minha vida por mim. E eu pensei, que todo esse tempo, eu nunca te deixei se despedir de mim. E chegou a hora, não? Acho que até passou. E então eu chorei. Chorei a despedida que nunca tive. Chorei a despedida que nunca terei.
E entre tantas despedidas, eu pensei no que eu gostaria de te dizer, pela ultima vez. E eu ri. Ri, tristemente, pois não havia nada. Eu não deixei nada por dizer. Eu não guardei nenhum eu te amo, ou sinto sua falta. Nunca deixei de dizer que o que fizestes na minha vida. E por isso, eu fico feliz comigo. Meu amor foi verdadeiro, foi sincero. Até minhas falhas fiz questão de esclarecer. Sabes cada ponto do caminho em que tropecei. Depois de tantas meias despedidas, não sobrou nada pra um adeus final. Nem a vontade de te agradecer. Não fizestes nada. E hoje eu aceito isso. E olha, eu me perdoo.
E me perdoando, te digo o mais sincero adeus. E torço pra que eu seja feliz.

Com amor, 
D.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

No analista.

Chegou atrasado como sempre chegava, pois essa era sua estranha forma de pontualidade. Deitou-se no sofá onde deveria apenas sentar, pois já que estava ali, queria fazer como nos filmes. Do outro lado, de uma distancia impessoal, o analista o observava. Cara estranho, pensou.
- Então, doutor. Eu tô sentindo sozinho, sabe? Daquelas solidões doidas, estranhas, que não passam. Outro dia eu estava no ônibus, veja o senhor, cheio. E eu fiquei pensando nas coisas. Fiquei pensando naquele cara que disse uma vez sobre estar sozinho em multidões. O senhor conhece essa né? Claro que conhece, maior clichezão. Pois é, tava pensando nisso. Como é que eu explico pro senhor? Deixa eu ver. Imagina que a sua mãe te leva num show. Ok, comparação meio estranha, mãe levando criança em show. Mas é isso mesmo. E no meio da multidão a mão solta da dela, e você fica lá, pequeno, perdido no meio de um monte de gente grande, que não te vê. E você olha pra todos os lados e não vê nenhum rosto conhecido. Não tem saída. Você não tem dinheiro e mesmo que tivesse não saberia voltar pra casa, afinal, você é uma criança. Imagina a solidão dessa criança. Imagina o desespero. Pois é, doutor. Eu acordei me sentindo assim. Deu pra entender? Acho que minha hora acabou, né? Então vou indo. A gente se vê por ai, no meio da multidão. Brigado ai pela ajuda. Até.

Pela janela, o analista observou o moço sair do prédio e pegar um ônibus, ironicamente, lotado. Estamos todos sozinhos, pensou. E foi abrir a porta.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Sobre algumas escolhas.

Muitos dias eu não abria a janela, porque não fazia sol. Hoje fez. E quando abri a tal da janela um passarinho entrou. Tão pequeno e frágil e ao mesmo tempo tão ávido de tudo. Entrou com tanta pressa, como se desejasse a muito tempo o calor do meu pequeno quarto. Mas aqui dentro, agoniado, se debatia, de um lado a outro. Como sairia? Até que parou em cima do armário, olhou (acho eu que) cuidadosamente onde se encontrava, visualizou a janela, abriu as asas num impulso só e ganhou o mundo. Depois de cinco minutos do que parecia um sofrível desespero, ele conseguiu sair por onde havia entrado. E eu que apenas observava curiosamente a cena, me senti meio pássaro. Minha janela era maior, meu quarto era maior, mas eu não passava de um passarinho assustado num lugar estranho. Eu queria o vento. Eu queria o mundo. Eu queria asas. Mas no momento eu apenas me debatia, freneticamente, num espaço minúsculo dentro de mim mesma. Mas assim como meu passarinho e sua janela,  hora ou outra eu pararia de gastar minhas energias inutilmente. Tudo que eu preciso é visualizar com calma minha janela. Minha saída. E sem medo, partir.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Do que foi.

Eu ando com saudade. E por incrível que pareça, minha saudade anda sem rosto. Sem nome. Sem cheiro. É uma saudade pura e simples, assim desse jeito, só. Uma saudade. Tão grande e tão mansa, que mesmo cheia de delicadeza me aperta o peito. Não é saudade do tempo especifico. Datada. É uma saudade estranha. Sem paredes. Ou portas. Ou grades. Uma saudade céu. Tão azul e infinita que me dói a vista, mesmo abrilhantando os olhos. É saudade, apenas.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Sobre como eu seria feliz num milésimo de segundo.

Eu queria desligar. Era pedir muito, deus? Desligar tudo por uma mísera fração de dois segundos. Um. Meio. O que tempo que me fosse permitido. Eu aceitaria tudo, qualquer pedaço de  tempo, que pudesse me ser concedido. Desde que tudo parasse. Tudo. A cabeça, o coração, o corpo. Todo os fios que se ligam uns aos outros e movem essa maquina dramaticamente perturbada e psicótica chamada de Eu. E por alguns segundos, detrás do vidro sujo dos meus olhos, a alma dormiria quieta e profundamente. Sem batimentos. Sem pensamentos. Já não seria preciso ver a madrugada entrar pela janela do quarto enquanto a mente se inquieta pensando o que ele estaria fazendo. O que que ele estaria pensando? A vida dormiria. Por alguns segundos, o mundo poderia acabar. Explodir. Você, ele, qualquer outro, tudo. Tão desnecessariamente indispensáveis nesta vida, minha vida, vida? não seriam nada. Porque por alguns segundos, não existiria vida. Não existiria nada. Desligado. Imóvel. Em paz. O silencio do outro lado do mundo já não machucaria a boca que quer tanto falar. E por segundos, se juntaria ao silencio do escuro que é não sentir nada. E eu descansaria. Nada mais precisaria fazer sentido, ser entendido. A ligação que não veio. A resposta. A falta de carinho. Nada. Mesmo que por uma quantidade ínfima de segundos, não haveria saudade, não haveria amor, qualquer sentimento. Ou vontade. O sentimento de vazio que me não me deixa dormir. E eu, meu deus, eu dormiria. Incrivelmente cheia de nada por estar vazia de tudo.
Mas é pedir muito. Eu sei.