segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Das coisas que li e guardo comigo.



"e de novo então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és.."

Caio Fernando Abreu - A beira do mar aberto

Só mais um punhado de clichês e pensamentos aleatórios.

Então eu fui sentar naquela praça próxima a universidade, quando acabaram as aulas. Colocar a playlist no aleatório, sentar e ver as folhas amarelinhas caírem, o que aparentemente, se tornou meu esporte favorito de outono. E eu só fiquei lá, entende, vendo as pessoas passando e as folhas correndo do vento. 
Entre um pensamento, observando o tempo colorir aquele lugar lindo eu me dei conta de como eu sou apaixonada por Budapeste. De como eu sou apaixonada por tudo na verdade. Eu me apaixono tão fácil. E sei lá, eu não tenho um critério. 
Eu fiquei lá pensando que nada me impede de me apaixonar por aquele cara que passa distraído olhando o celular, ou aquele outro que ia apressado, com uma sacola de compras. 
Eu me apaixonaria pelo saxofonista que toca todas as semanas, na parada do tram em frente ao meu prédio enquanto espera? Ou o vendedor da padaria, que não fala uma palavra de inglês, mas me dá um sorriso sincero, quando eu improviso meu húngaro fajuto? 
Talvez. Talvez eu me apaixonasse pelo cara que entrega panfletos da loja de mel na esquina, que sabe que eu pego esses mesmos panfletos todos os dias (Será que ele sabe, que eu espero virar a esquina pra joga-los no lixo, como se isso magoasse ele?). Quem sabe.
Quem sabe eu me apaixonasse pelo fiscal do metro, que eu sempre cumprimento, porque ele sempre me parece tão triste! Ou pelo atendente do sebo, que uma vez por semana eu faço procurar milhares de livros, mas que quase nunca se irrita por eu não levar nenhum (quase nunca!).
Sabe, a verdade é que eu seria capaz de me apaixonar por qualquer pessoa que se desse ao trabalho de ser gentil comigo, porque é incrivelmente fácil me desarmar com um sorriso, sabe? 
Eu fico ligeiramente encantada com quem não me nega ou sorriso e ainda mais com quem me dá um de graça - como isso fosse coisa de outra mundo. E as vezes é, acredite.
Eu sei lá, é que essa tarde, lá na praça, eu percebi que, ao contrario do que eu pensava, eu poderia me apaixonar por qualquer pessoa, e que provavelmente, eu vou. E pela pessoa mais improvável do planeta, porque eu sou assim.

Por enquanto, é só deixar o tempo passar. E quem sabe?


Fica tocando na minha cabeça

Quem garante
Que o que você é
É o que o outro espera de você?
Distante
O que você me diz do que eu sinto
Não sei porque.
O que você me diz do que eu sinto
Não sei porque.
Quem garante
Que seguindo adiante eu possa enfim viver?
Sem me comparar
Sem entristecer
Sem tentar mudar
Sem poder entender.
Não dá
Eu vou ter que sair pra poder voltar.
Me ver
Me achar
No seu olhar
Pra entender o que é o gostar.
Me ver
Me achar
No seu olhar
Pra entender o que é o gostar.
Quem garante
Que o que você é
É o que o outro enxerga?

Tiê.

Constatação

E eu, que tanto quis abraçar o mundo, fiquei sem qualquer abraço.

domingo, 28 de setembro de 2014

Era tudo que eu queria.


Futuro do pretérito.

Olharam-se.
E na brevidade daquele olhar ela buscou algum reconhecimento. Não havia. Eram nada mais que estranhos.
Sorriram, cumprimentando-se, e seguiram.
E mesmo ainda esbarrando-se tantas e outras vezes, nunca mais se viram.


Se.

O primeiro livro que eu lembro de realmente ter lido foi a Marca de uma Lágrima do Pedro Bandeira. Minha mãe que trouxe pra casa. Era um livro que ela havia lido quando era jovem e quando viu, achou que eu poderia gostar. Eu devia devia ter uns 10, 11 anos, sei lá. 
Eu fico me perguntando se todo esse meu jeito ridículo de ser não começou por ai. Porque livros moldam o pensamento, não moldam? E se ela tivesse me dado pra ler, não sei, uma coisa mais séria, mais comprometida com a realidade, nem que tivesse sido a Veja! Será, que não haveria a mínima possibilidade de eu ser uma pessoa emocionalmente diferente?
Porque eu lembro que depois disso, o negocio desandou completamente. Eu lia até aqueles romances meio eróticos de banca de revista, que ela costumava chamar de sub literatura. 
Eu me pergunto isso, porque eu não era assim. Até meus 12 anos eu era a única menina da familia. Três irmãos, infinitos primos. Eu lembro que eu detestava bonecas, porque se eu gostasse, eu brincaria sozinha. Eu gostava era de bolinha de gude, cards, roubar manga no vizinho, correr atrás dos moleques da rua. Eu era a valentona, estilo Monica, mas sem o vestidinho vermelho e o coelhinho. Eu era brigona e nada, nada feminina. 
Minha mãe sempre conta que desde de bebê eu jamais gostei de coisas no cabelo. E quem me comprava roupa era o meu pai, além de que ele mandava cortar meu cabelo num chanelzinho, que eu juro pra vocês, dava pra confundir com um menininho. Eu não era meiga, eu não era sensível, eu quase não era uma menina.
E hoje eu sou esse poço de sensibilidade, que chora desesperadamente, que rima amor com dor, num poeminha cafona ou que usa a palavra coração e amor quinhentas vezes numa frase. Que merda aconteceu comigo? 

Eu amo a minha mãe, mas custava ela ter me dado primeiro pra ler, sei lá, V de Vingança?

Os mudos também amam.

Eu deveria ter ficado calada. Eu deveria ter lido tudo aquilo que você me falava e ficado calada. Respirado fundo e dito a mim mesma que ia até ali a esquina e depois, calma, voltaria para te perguntar como tinha sido. 
Mas eu não fiquei calada. Porque eu nunca fico calada. Acontece que meu coração começou a querer sair pela boca e meus olhos se encheram de lágrimas mais rápido do que eu pude piscar e mesmo com aquele nó que se formou na minha garganta, minha cabeça ficou entupida daquelas frases horrorosas que desataram a sair feito uma chuva pela minha boca, e eu disse tudo aquilo. 
Eu deveria ter ficado quieta, e agido como a pessoa normal e sensata que eu não sou. E talvez eu não tivesse ultrapassado as barreiras da nossa forçada amizade e talvez, só talvez, tivéssemos ficado do mesmo jeito.
Mas eu falei. Mais do que eu queria e muito além do que o nosso contrato de amizade exigia.
E no meio das indesculpáveis coisas que eu te gritei, o meu amor foi sincero. E esse amor bobo e rouco que eu tenho no peito ainda me enche de palavras pra ti. 
Quebrei nosso trato, desfiz nossos laços. Mas ainda não me livrei por inteiro de ti. 
Te afastei com palavras que não podiam ser ditas e agora tenho que viver cheia daquelas que não suportam tua ausência. 
E agora, agora eu me obrigo ao silencio que deveria ter mantido, mesmo tendo um coração esperneando de vontade de te dizer coisas úteis, inúteis, ou fúteis, desde de que ditas a ti. 
Você não podia, nem queria, ouvir tudo que meu peito, inutilmente, tentava te dizer. 
Então eu, que coloquei todo meu amor em palavras, me calei.

Com todo amor entrelinhado,
D. 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Resoluções de um ano não novo.

Vivemos pensando sobre quem somos, onde estamos na vida e o que seremos. Não vivemos? Se você não, eu sim, muitas e muitas vezes.
Eu vivo com essa necessidade de me definir, de dizer "olha, isto eu sou, mas isto não, não sou eu". Como se eu precisasse de uma definição pra caber, um limite pra essa infinidade de possibilidades da nossa existência.

Dizem eles que podemos ser tudo, tantos, todos, quem quisermos ser. E dizendo isso, eles tem a falsa impressão, o ridículo propósito de nos dar a sensação de sermos livres, quando na verdade, é realmente sufocante tantas opções de ser.

Eu sou uma hoje, mas posso ser outra amanha, e isso parece tão perfeitamente normal, por sermos feito todos dessa coisa inconstante. Mas ai vem um e diz que a questão é ser ou não ser, e isso fica martelando dia e noite na minha cabeça. Não fica na de vocês?

Tudo que eu sei, é que no meio de tantas visões de mim mesma, eu não quero o peso e a imparcialidade sem graça, de ser tantas. 
Eu me defino todos os dias, quando digo o que gosto ou não. Mas se são os gostos passiveis de mudança, quem seria eu?

Se eu sou essa que vês, quem sou pra mim, quando não posso me ver?

Eu não tenho nenhuma certeza, mas eu começo a ter uma ideia. 

Nota mental.

Eu já mal lembro do sorriso ou dos olhares, sem falar da voz que eu esqueci completamente.
Os momentos já começaram a se embaralhar na minha cabeça, e eu não tenho mais tanta certeza de ter vivido algumas coisas ou imaginado outras.
Cada dia eu me questiono mais sobre o porque disso tudo.
Eu ainda tenho vontade de ligar, de contar meu dia, de ouvir bobagens.
E cada dia mais essas vontade parecem ir ficando sem sentido, meio perdidas.
E eu percebi que esse tempo todo, eu não estava lutando pra te esquecer.
Estava fazendo o oposto, me recusando a te deixar ir.

Mas um dia desse, depois de, mais uma vez quebrar minha promessa de não te procurar, eu me senti verdadeiramente idiota por acordar essa já quase inexistente lembrança minha que tens ai.
Se eu tenho ainda todo aquele amor, que eu te gritei tantas vezes? tenho sim. E me deu pena dele, um ator perdido, nessa cena boba, todo ultrapassado.

Eu tava tão ocupada lutando contra, que eu comecei a te esquecer e nem percebi.
Espero que estejas feliz.

Com todo amor sem fala e sem papel,
D.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

E se teus monstros saírem de baixo da cama e te abraçarem?

E hoje pela milésima vez eu chorei. Chorei como se houvesse dentro de mim um mundo de coisas que eu precisasse botar pra fora, mas que se recusavam a sair. Eu chorei por todas as palavras não ditas, por todas as vezes que eu fiquei esperando alguma atitude, algum carinho, algum abraço. Chorei por todas as coisas que estavam na minha frente e eu me recusei a ver, e por todas as outras que eu poderia ter visto, mas deixei passar, por estar cega demais. Eu chorei por ele, que nunca poderia ser o que eu esperava e chorei por mim, por esperar coisas além do meu alcance.
Deus, como eu chorei por mim! 
Chorei por todas as vezes que eu fui fraca, confusa, ou que me cobrei demais. Chorei por minha cabeça tão criativa, que vive de imaginar amores por ai, e chorei ainda mais, por ter considerado isso ruim. Chorei por todas as vezes que deixei de me amar ao amar demais alguem. E por todas as vezes que eu chorei e não era por mim. 
Hoje, não sei se pela ultima vez, eu chorei por ele. Mas pela primeira vez em muito tempo, eu chorei por mim. Por quem eu era, por quem eu sou e por quem tenho medo de ser no futuro. 
Porque eu estou sozinha e tenho medo. Tenho medo de ser fraca demais pra ficar sozinha. Tenho medo de me cercar de pessoas por medo e escondida, nunca poder achar a mim mesma. 
Mas apesar de todo medo, de todo choro, eu estava ali. E eu me fiz companhia de um jeito que jamais eu havia me feito antes. E pela primeira vez, meus dedos não procuraram números pra que ligar, ou mandar mensagens desesperadas pedindo abrigo. Pedindo colo.
No meio da minha solidão, sozinha, pela primeira vez eu me bastei. E por mais que eu fosse fraca, e por mais que eu chorasse, eu nunca me abandonaria. 
Eu estava apanhando, e estava aprendendo. 
Mas eu estava ali por mim. E me amava.

Caso você saiba.

Será que alguém, uma dia, vai olhar pra minha bagunça e dizer, eu fico?

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Das coisas que ele não sabe

E antes que ele pudesse saber das minhas pequenas coisas, ele saiu da minha vida. Não deu tempo dele me ver abraçar o travesseiro na hora de dormir, ou saber que o que eu mais gosto em dormir junto é quando os meus pés sempre gelados são aquecidos por outro. Ele nem ficou tempo o suficiente pra me ver desfilar com meu pijama mais surrado aos fins de semana, vestida com a preguiça infindável que eu alimento nos dias de domingo. Ele nunca vai poder reparar que eu asso o pão com a manteiga virada pra baixo, porque na minha cabeça ela fica mais torrada. Ou que antes de arrumar a casa, eu passo horas escolhendo um CD de Forró, porque fica mais fácil dançar com o pano de chão. 
Talvez tenha sido bom, porque ele nunca vai reparar em como as minhas mãos tremem quando meu pais começam a brigar. Ou como eu devoro a comida como se vivesse com fome. Ele nunca vai ouvir minha mãe brincar dizendo que eu não gosto de banho. Nunca vai receber uma ligação no meio da noite, porque os gatos andam no telhado da minha casa e me deixam apavorada. Ou me ver angustiada porque passa da meia noite e meu irmão não chega em casa. Porque ele sequer ficou tempo suficiente pra ver como eu amo meus irmãos.
Ele nunca vai me ver xingar o mais novo e mesmo assim, viver preocupada se ele comeu ou se tá bem. Sequer deu tempo dele me notar, desse tamanho, ficar toda feliz quando o meu pai chega em casa com meu iogurte preferido, como uma criança. E eu nunca vou precisar mostrar meu lado egoísta, porque ele nunca vai pedir um pedaço do meu ultimo pedaço de bolo. Por outro lado, ele nunca vai notar que mesmo não querendo dividir, eu sempre dividirei.
Da minha família, ele nunca vai escutar como eu fui a criança mais péssima de todas, porque ele não ficou tempo suficiente pra ouvir minhas tias contarem minhas artimanhas, ou ouvir minha vó cheia de orgulho falando como era o dengo do meu avó. Ele perdeu me ver emocionada ouvindo ela contar de como meu avó me trazia cachos de banana e por isso me chamava de "Branis".
Ele saiu antes de me ver mudar a minha de cama de lado toda semana, por gostar de mudanças no quarto. Ele nunca vai se atrasar ao sair comigo, me esperando pentear o cabelo de um jeito diferente e nem se irritar por no fim, eu sair com ele igual.
Ele nunca vai perceber que eu escolho shampoo pelo perfume, ou que gosto das pastas de dente que ardem na boca. Ele nunca vai me ouvir dizer que tenho os sintomas de doenças imaginarias, só porque eu vi na TV, ou rir me ouvindo dizer que tenho todos os sintomas de câncer, só porque eu sou hipocondríaca. Ele nunca vai saber que estomazil sabor abacaxi é meu preferido, e eu que tomo ele pra tudo, como se fosse agua, mas odeio boldo.
Não deu tempo. Não deu tempo dele conhecer a filha preocupada, a irmão chata, a neta amada, a neurada da limpeza, a mimada pelos pais, a teimosia em pessoa. Porque ele saiu vendo só a menina toda errada da universidade. 
Ele saiu da minha vida antes de ver todos os detalhes estúpidos dos quais eu sou feita. Antes de ouvir os medos que me tiram o sono, os coisas bobas pelas quais eu rio. Ele pensa que me conheceu o suficiente pra saber que não devíamos estar juntos, sem ficar tempo suficiente pra descobrir as coisas que ele possivelmente odiaria, e tantas outras pelas quais ele relevaria essas. 
E o que importa agora, se ele não ficou tempo o suficiente pra isso importasse alguma coisa?

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Eu queria ser daquele tipo de pessoa cativante, que tem grandes amizades e muitos amigos. Eu queria ser do tipo de pessoa que faz sorrir por ai e tem pra quem ligar em um dia de tédio dizendo "ei, vem me fazer companhia". 
Aquele tipo de pessoa que por onde passa esbarra num carinho, num gesto de amizade, numa cumplicidade. Que por menos tempo que passe em algum lugar, consegue deixar algo, inclusive sua falta. 
Mas eu não sou assim. Eu sou fechada e tão irritante quanto irritável. Se tenho dois ou três amigos nessa vida de bilhões de pessoas é muito. Passo invisível e incompreensível por todos os cantos. E por onde passo, esbarro em desavenças, controvérsias e falsas palavras. 
Num dia vazio de companhias, minhas inúmeras ligações me servirão apenas para colecionar desculpas. Não há quem queira estar comigo ou se fazer presente.
Passe o tempo que passar, tudo que consigo é seguir em frente como se meus passos nunca tivessem pisado qualquer caminho. 
Essa sou eu. Invisível. Visivelmente vazia e inalcançável.