sexta-feira, 29 de maio de 2015

Amor é história de pescador.

"Tu vês esse rio?" Perguntou o pescador a moça. 
"Nele tudo passa e tudo passa por ele. Todo esse mundo de água que nunca para. Que nunca fica. E o rio peleja, sozinho. Mas todo rio tem destino, sabe? Um dia, um dia o rio encontra parada no mar, que tá sempre lá parado esperando, e fica. É quando o mar ama o rio. E o rio, ah, o rio vira infinito. "

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Devolvido ao remetente.

Hoje faz um mês que nos desconhecemos. Será que faz mesmo? Talvez eu tenha perdido as contas ou parado de contar quando finalmente fechei nossa porta. Eu fechei ne? Fechei sim. Mesmo te tendo amor. Mas você entende né? Eu não podia mais continuar nessa caminhada sozinha. Eu não podia mais insistir sozinha. Você se afastava rápido demais, sempre que tinha chance. Palavras suas, não minhas. E cada vez que você ficava distante eu nadava e nadava e nadava no vazio tentando te alcançar. E eu me achava uma marinheira louca e ficava com medo de você ter pulado do barco, com medo de onde isso ia dar. Que você tinha medo eu sabia. Mas eu sempre achei que era de mim. E eu me diminuía pra não te assustar. Eu ficava engolindo amor e mais amor, na esperança de você me achar normal e continuar remando comigo. Mas eu tava só me afogando enquanto você se afastava mais e mais.  Porque eu achei que juntos buscávamos por terra, quando na verdade você era sua própria ilha.  Mas solidão de ilha não me cabe, sabe? Muito pequena pra dois. Eu queria e ainda quero praia. Acontece. Não era pra ser. Nosso barco era furado e a gente errou e falhou em tentar tampar tantos buracos. Só não era pra ser. E infelizmente, eu tive que aprender a nadar sozinha, porque meu bem, ainda que por agora eu não veja, mais a frente tem terra a vista. E uma praia me espera.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Só anda, amigo. Só anda.

É o teu caminho, porra! Sem tijolos amarelos brilhando, sem pote de ouro no final, sem largada, sem chegada, sem canto de vitoria. Se tropeçar, tá sozinho. Se duvidar, tá sozinho. Se errar? Volta. Se cansar, muda. Mas caminha, porra! É o teu caminho. É você e o céu. Você e tempo. Você e um maldito de um caminho, que só é caminho quando você decide trilhar! Então poe esse pé na estrada, na rua, na vida, e caminha, meu filho! Um atrás do outro. Rápido, devagar, se o caminho é teu, o ritmo também. Se quiser parar, para. Para e olha, e avalia. E depois começa tudo de novo, e de novo, e de novo, e em seguida mais uma vez. 
Mas caminha. Toda estrada tem um final. E depois desse final, um novo caminho. Porque é isso, tá fodido, vai ser pra sempre esse passo a passo. 

E o que a gente faz, então? 
Caminha, ora. 
Só caminha. 

terça-feira, 12 de maio de 2015

Peço desculpa,

 Se atrapalhei tua solidão ao longos desses meses, quando tudo que eu queria, era compartilhar a minha.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Coração

Esquece,
quem não te deu abrigo. 
Quem te deixou morrer a míngua, ao te tirar do peito.
Esquece,
quem fingiu não te ouvir bater, 
quem te apertou até te sufocar, 
quem não se importou em te socorrer. 
E perdoa.
Quem te entregou sem cuidado. 
Não foi por maldade ou por maltrato.
Mas por confundir amor. 
E te deixar doer. 

Rápido

"Com quantas mágoas se faz uma canoa?" Perguntou a Moça.
"Depende do tamanho do coração que tu queres naufragar" Respondeu o Pescador.

domingo, 10 de maio de 2015

Lego 1991

As vezes eu penso que tudo foi obra de um grande senhor brincalhão que um dia, entediado, resolver brincar de lego com a minha vida. Peça pra cá e lá, encaixando uma coisa aqui outra ali, assim que eu imaginaria o destino, se ele fosse uma pessoa. 
Um senhor barbudo, bondoso e entendiado, que acaba de ganhar da esposa uma caixa de lego. E de volta a infância ele vai montando e desmontando minha vida. "Como tá isso, minha velha?" ele deve perguntar pra esposa vez ou outra, e ao notar um olhar de desaprovação, desanda a desconstruir toda de novo minha historia. 
Mas ele é um senhor bondoso, dependendo do dia. As vezes imagino que ele só queira encaixar uma coisa na outra, tudo certinho. Outras pra animar um dia chato, considero talvez que ele, por pura diversão, bagunça e tenta combinar coisas sem o menor sentido. Por enquanto acho que ele não tem muita ideia do que vai construindo, e vai colocando peça por peça pra ver o que sai no final. Mas ele é paciente, e aparentemente não muito afim de me deixar ser princesa num castelo. Creio eu que na cabeça dele passem ideias de grandes construções, apesar de ser um péssimo engenheiro. Espero mesmo que ele saiba o que faz. Ou se não sabe, nunca pare de ter vontade de colocar mais peças e ir aumentando esse sonho de produção mirabolante que seria a única justificativa pra ele fazer e desfazer minha vida já construída tantas e tantas vezes, como se buscasse a perfeição. 
Sei que nessa caixa deve ter vindo mais de um personagem, mas nessa historia que é minha eu sou a bola da vez. Vez ou outra ele tira um outro da caixa pra me fazer companhia no novo projeto do momento. Mas tenho pra mim que ele olha bem, analisa o casal, tira o personagem e me deixa reinando sozinha na historia. Espero que ele esteja esperando aparecer o bonequinho certo do meu lado, porque não acho que possa atuar nessa construção sozinha. 
Mas no fundo, no fundo, mesmo agoniada e angustiada, por defeito de fabrica, já que eu devo ter sido uma entre milhões e milhões de pecinhas fabricadas, eu acredito nesse senhor, chamado destino. Vá ver ele é um gênio arquitetônico e eu não sei, ou na pior das hipóteses, um velho louco brincando de deus. 

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Para todos os fingidos amores

O meu amor possível vai olhar nos meus olhos e me reconhecer. De inicio, eu não vou saber quem é ele, porque ele será tão real que eu duvidarei. Ele vai se irritar com minhas criancices, minhas birras, meus ataques de fúria. Algumas vezes, ele vai bater a porta com raiva e ameaçar não voltar, porque ele é real demais pra fingir estar tudo perfeito. Mas ele vai voltar, vai me olhar como se tudo mais valesse a pena, porque assim como ele, o amor também será real. Meu amor possível vai me perguntar como eu estou e rir quando eu dramatizar meus dias. Vai gargalhar com meu mórbido humor desenvolvido nas horas em que me desespero, tendo certeza que eu sou completamente louca, e ele me ama, porque tudo é possível nesse mundo estranho. 
Esse mesmo amor, vai cuidar de mim num dia de chuva e febre, ou vai chegar suado e cansado num dia de sol e trabalho, a procura da paz dos meus braços. Vai me amar e vai me odiar quase com a mesma frequência, porque assim que as coisas acontecem. E vai se atrasar muitas e muitas horas em quase todos nossos encontros, porque pessoas reais, nunca chegam na hora. Ele vai olhar pra outras pessoas e mesmo sabendo que existem tantas outras felicidades possíveis, ele vai escolher ficar comigo, porque eu serei capaz de roubar dois ou três sorrisos, quando quase sempre, estiver distraída.
E é possível que meu possível amor acabe, mas ele terá valido tanto quanto outro, porque ele foi real. 
Mas tudo valerá a pena. Porque meu amor possível terá me amado além de palavras vazias. E na realidade da vida, é apenas a beleza dos gestos que permanece. 


Ouvi dizer que amor não tinha fronteiras. 
O meu, porém, não tem país.
Não tem porto, nem bandeira. 

Sem destino, nem parada, 
sem coordenadas no tempo,  
Meu amor é clandestino.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Sonho estranho.

Vou passar horas pra escolher outra roupa além daquela que estava preparada sobre a cama, desde a noite anterior, apenas para acabar vestindo aquele mesmo vestido. Na frente do espelho vou amarrar e desamarrar meu cabelo pelo menos três vezes, para no final solta-lo, por que disfarça melhor os ombros largos que eu tanto detesto. Vou ficar em duvida se uso o perfume novo que eu adoro, ou aquele antigo, que eu guardei apenas porque você gosta. Vou lembrar que esqueci alguma coisa na bolsa e quando voltar para buscar, já do portão, vou olhar no espelho pela milésima vez se eu não borrei o batom e pensar se não deveria mesmo prender o cabelo. Não, ressaltaria os ombros, vou pensar de novo. 
Vou sair de casa e vai estar abafado, como sempre. A vizinha vai acenar pra mim, como todos as vezes, e vai perguntar quando meus pais vem. Enquanto eu respondo, vou pensar se seria mais rápido pegar o ônibus da parada em frente, ou se deveria caminhar até o inicio da rua. Vou decidir esperar. Impaciente, vou caminhar até o inicio da rua, e acabar pegando o mesmo ônibus que pegaria se tivesse ficado no lugar. Quando eu sentar, meu coração vai acelerar e eu tenho certeza que vou pensar "meu deus". Quando o ônibus dobrar na Aug. Montenegro eu vou olhar aquele shopping que eu gosto e vou checar o horário como se isso fizesse o tempo andar mais rápido. A poucos metros da Alm. Barroso eu vou maldizer o engarrafamento e imaginar que descer e andar me faria ir mais rápido. Os carros a frente irão andar, o motorista vai correr, e um vento vai bater no meu rosto, me tranquilizando. "Vai dar tudo certo" eu vou pensar. Quando o ônibus dobrar o Bosque vai começar a chover. E vai chover até a Perimetral. Mas eu provavelmente não terei um guarda-chuva.
Eu vou descer no terceiro portão, saudosa da universidade, e vou caminhar até a beira do rio. Com o coração quase saindo da boca, eu vou avistar aquele banco, que fica embaixo de uma arvore baixinha. Tinha que ser naquele banco. Vou torcer pra não haver ninguém, e não haverá. Eu vou sentar e lembrar de tudo, repassando cada segundo na minha cabeça.
De algum lugar daquela cidade, daquela vida, você estará vindo. 
E antes que você chegue, eu vou embora.