segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Ei, você

Quando me conhecer, seja paciente, pois sou insegura e me apego fácil. Eu choro sempre que me sinto angustiada ou ansiosa, e eu sinto tudo isso muitas vezes por dia, chegando até duvidar de mim mesma. Então por favor, te peço que me abrace muito e com carinho, porque eu vou precisar muitas vezes. Por favor, mesmo longe, tente sempre ficar por perto, porque eu tenho uma mania idiota de acreditar que eu afasto as pessoas que amo. Se puder, me mostre vez ou outra que estou enganada em acreditar que é difícil permanecer ao meu lado e que eu não sou a pessoa mais egoísta que você já pode ter conhecido, ainda que muitas vezes eu aja como uma criança. Se eu me afastar, por favor, não me deixe ir. Eu caminho sozinha, mas eu me perco com frequência. E tenho medo de  dobrar esquinas e não encontrar ninguém. Quando eu disser uma besteira, ou pronunciar algo errado, me corrija de forma delicada, e ria comigo, não de mim, porque você não sabe, mas eu costumo remoer meus erros por dias, e mesmo os bobos, parecem pedras enormes das quais não consigo me desfazer. A verdade é que eu não sei ser sozinha. E minha solidão me dói mais que todos os dias. Tudo me pesa. Se eu for demais pra você, por favor, não entre na minha vida. Mas se puder ficar, fica. Ainda que eu não te ame da forma mais correta, é a melhor coisa que sei fazer.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Sobre o que falta.

Sinto falta de ser olhada como se fosse a coisa mais especial a ser vista. Sinto falta de olhar como se quisesse decorar cada curva de um rosto já prevendo saudades. Sinto falta das saudades. Saudade de estar perto. Saudade de estar. Sinto falta de dedicar musicas, de ser cafona, de ser clichê, de dizer que amo mais que tudo e que meu amor é eterno ainda que ele tenha prazo. Sinto falta dos suspiros e respirações durante as ligações longas e de quando até silêncios são confortáveis. Sinto falta de estar confortável. Com meu corpo. Com meus gostos. Com meus hábitos. Sinto falta de não ter medo do amanhã. Dormir e acordar sabendo que aquele querer me pertence. E que eu pertenço. Sinto falta de pertencer. Ser do outro mesmo sendo tão minha. Sinto falta de completar. De ser a paz, de estar em paz, de ser abrigo. Sinto falta de abraços silenciosos que afagam mais que palavras de afeto. Sinto falta de poder demonstrar afeto. De amor. De amar. 

domingo, 29 de novembro de 2015

Poeminha xulo

Os baralhos são distribuídos pela mesa.
Cartas dadas, 
jogadores  a postos. 
Se eu to no jogo,
Aposto. 

Aposto 
que 
não 
sei 
jogar. 

Se a banca quer ganhar
Eu, sozinha no jogo

Só. 

queria 
amar.

Mas
pra minha falta de sorte
Amor virou jogo se azar.

domingo, 15 de novembro de 2015

Vontade.

De ligar além do permitido.
De falar além do combinado.
De querer respostas pra perguntas que mal foram concebidas. 

Essa vontade.

de correr com o tempo, 
de pular etapas, 
de desentendimento. 

A balança que pende, 
sempre 
pro lado da loucura. 

Não há ninguém presente pra compensar meus excessos. 

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Amarga Maria

Outro dia Maria topou com a escuridão da vida. Coração turvou diante de tanta falta, porque pra onde Maria olhava, não via nada, faltada era tudo. E Maria pensava se agora ela não andava olhando despercebida pras coisas que faltavam, ou se a falta das coisas que ela sentia se devia ao fato de ter inventado tudo que via. Verdade era que Maria só via mentira por onde andava. E as vistas de Maria foram ficando cansadas, doídas, sentidas da verdade que via, sabe? E por mais que Maria chorasse, e como Maria chorava! Não tinha dor e água que limpasse a vista e desanuviasse penumbra que se estendia sobre os olhos de Maria. Cade vez que a triste da Maria olhava a feiura de fora, a feiura da tristeza se espelhava pro lado de dentro, e ia se entranhando no coração de Maria como fogo que pega em galho seco, quando não cai gota de chuva que seja sobre a esperança do povo. Coração de Maria secava a olhos vistos, e Maria não via. Mas num dia bandido e sofrido como outro qualquer, bateu um ventinho vadio de esperança fugido vindo de onde não sabe até hoje. Só se sabe que a tal da Maria fechou de vez os olhos e sentiu o vento, que vinha quente alegrar tanta tristeza. E foi é fácil pro vento se infiltrar em tanta rachadura que a secura da falta tinha deixado no coração seco da Maria. E como planície que inunda, Maria sentiu, quando tanto vazio se encheu do tal esperançoso vento. E quando isso aconteceu,  um tanto assim de gente cega viu que ela via sentindo e não que sentia vendo. O que fazia todo sentido, porque mesmo quando o mundo todo tentava cegar Maria, Maria é que sempre acabava cegando todo o mundo, sendo a Maria. 

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A pior parte de não se saber o que se fez de errado é o medo de, sem saber, continuar a repetir sem fim o mesmo erro. E tenho quase certeza de que não importa o quanto eu tente, de quanto esforço eu faça, essa sensação constante de engano se deva ao simples fato de que eu continuo ainda, fazendo tudo errado. 
Mas eu não sei. Se é a forma de pensar, de ver, de agir. Se o problema é comigo ou com outro, o que importa? Eu tomo pra mim toda culpa, porque de forma ou de outra, eu que vou pagar o preço. No final do dia, eu estarei no mesmo lugar, estagnada, sozinha, porque nada é certo ou forte o bastante pra permanecer ao meu lado ou me levar junto. E eu peso. 

domingo, 13 de setembro de 2015

"Você anda fingindo muito bem que está bem" me disse alguém esses dias. E a pior das verdades é que eu não estou fingindo. Para isso, seria necessário que eu sentisse algo. Mas eu não sinto. Eu, sempre tão dramática, sempre tão sentimentalmente confusa e sempre, sempre apaixonada por algo ou alguém, não sinto nada. Absolutamente.. nada. 

E isso me assusta.
Pra caralho. 

domingo, 6 de setembro de 2015

Escrevo pra te dizer que sinto saudades. Saudades terríveis de como eramos antes. De como víamos o mundo e segurávamos nossa onda. Nossa barra, sem saber quem direito quem eramos. Eu sinto saudade da nossa solidão, que antes compartilhavamos tão facilmente com qualquer um. Sinto saudade da nossa facilidade, da nossa fragilidade suave, da nossa criancice. As vezes, me pego sentindo saudade da nossa falta, das nossas duvidas, dos nossos medos estranhos. Lembra dos nossos medos tolos, de nunca ter ninguém? Ainda temos. Mas o que somos hoje? Me pergunto todos os dias por você. Por onde andas? Em que parte do caminho eu te deixei? Ou que fui deixada? Ainda te procuro no espelho todos os dias. Dentro dos meus olhos, na minha fala, na minha cara, se te reconheço. Eu queria tanto te contar do nosso progresso. Do meu, teu, progresso. O mesmo progresso que nos afastou. Lembra quando eu tive que decidir entre ficar ou crescer? Queria te contar que ainda choro do mesmo jeito. Como se sufocasse. Que eu ainda falo pelos cotovelos, como se as palavras mandassem na minha boca e não o contrario. Que eu não sei guardar nossos segredos e sempre me revelo tão fácil. Que eu ainda sou boba e medrosa. Mas que eu ando sorrindo mais. Mais bonito, mais de dentro, sabe? Que aquele medo da gente ser sozinha pra sempre continua batendo forte aqui dentro, mas que ando aprendendo a pensar em soluções pra ele. O fato é que eu mudei. E eu te peço desculpa, por ter te largado no meio do caminho. Mas era preciso. Eu só queria te contar que a gente parou de se preocupar se tá no caminho certo. Mas que estamos em algum caminho. 

Com amor de quem se reconhece, 
Eu. 

quinta-feira, 23 de julho de 2015

- Talvez eu te ame.
-Talvez esse talvez me de toda certeza que não.
- Como você pode ter certeza?
- Como você pode não ter?
- Não existem certezas. Você esta sendo idiota.
- Existem quando existem duvidas.
- Eu não te entendo.
- Mas me conhece. Bem demais pra saber que devemos parar.
- Eu não quero parar.
- Mas você nunca esteve.
- Estive sim.
- Tem certeza?
- Talvez.
- Eu não te amo.
- Tem certeza?
- Talvez.
- Dói né?
- Você não me amar?
- Não. Não se ter certeza.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Eu te amo. Mas sem te querer.

Não tenho mais vontade de te dizer palavras de amor. Não tenho vontade de gritar meus sentimentos ao mundo e fazer virar manchete meus batimentos cardíacos quando você dá noticia. Perdi a vontade de fazer alarde sobre o que sinto, de te chamar atenção como uma criança, de fazer drama pra ter tua audiência. Perdi a vontade de te acenar de longe, de te mandar sinais de fumaça, de te escrever cartas. Não perco mais noites de sono pensando em segurar tua mão, tirei dos meus calendários os planos pra nós, arquivei nossas fotos e substitui nossas musicas por batidas só minhas. Já não te vejo mais em todos os rostos que esbarro, e já sou capaz de ver outros olhos que não os teus. Tua voz já não me faz tremer, tua falta de mensagens não me dói, teu descaso já não me incomoda. Meus dias são meus e não tenho mais vontade de compartilha-los contigo. Aprendi a dançar essa dança sozinha, e rir na pista, porque é nela que eu estou. 


terça-feira, 9 de junho de 2015

Queria escrever algo que não fosse sobre mim.

Chove. 
Gostas respingam cadenciadamente 
sobre telhados curvos
 e deslizam
 feito dança, chão a dentro. 
Pingo a pingo 
ritmadas.
 Sonoricamente corajosas
 cantam.
Deixando o céu 
e, 
 ganhando mundo
chovem.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Mais de mim.

Eu não sou de guardar palavras. Nunca fui. De inicio você pode pensar que eu não falo muito, porque me reservo a timidez de primeiro ouvir. Mas passado os primeiros encontros e formados e fortalecidos os laços, serei aquela que fala o que pensa, as vezes desmedidamente, é verdade. 
Não pense que por isso te digo que tenho fortes opniões ou grande ideias, pois não tenho. Eu tenho apenas uma vontade imensa de falar o que me vem a cabeça, por ter pra mim a ideia de que nunca fui capaz de guardar a palavra, que a palavra dada é carinho, é presença. Palavra essa que eu admiro. Seja escrita, ou falada, será pra mim antes que tudo, sentida. 
Eu sou isso, que você vê e lê e escuta. Essa confusão de palavras, esses sentimentos todos, que a principio podem te parecer afoitos, desconexos, cansativos. Mas isso tudo sou eu. E se você não me lê, não me ouve, e acaba não me enxergando, ou me conhecendo. 
Te reservo o direito a escolha, como me reservo o direito de ser aquilo que escolhi ser. Meus pais me ensinaram a amar em abraços e palavras, e isso é quase tudo que eu sou. 

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Quase nada.

Ninguém viu. 
Não era ninguém, como veriam?
Só se vê grandes pessoas e feitos imensos. 
Mas eu vi. 
Por mera distração.
Não é sempre que figuram tão grandes pequenos feitos no meu jornal de pequenas coisas. 
Estava lá, parada. 
Invisível no meio de tanta pressa, de tanta busca por espaço. 
Parada.
No meio de tantas carrancas, de várias cegueiras, imperceptível. 
E eu vi. 
No meio de toda aquela gente, do outro lado da rua. 
Sim, eu vi. 
Parada no tempo, no meio do meu dia cinza,
a moça sorriu.
E eu sorri também.
Porque eu vi.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Amor é história de pescador.

"Tu vês esse rio?" Perguntou o pescador a moça. 
"Nele tudo passa e tudo passa por ele. Todo esse mundo de água que nunca para. Que nunca fica. E o rio peleja, sozinho. Mas todo rio tem destino, sabe? Um dia, um dia o rio encontra parada no mar, que tá sempre lá parado esperando, e fica. É quando o mar ama o rio. E o rio, ah, o rio vira infinito. "

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Devolvido ao remetente.

Hoje faz um mês que nos desconhecemos. Será que faz mesmo? Talvez eu tenha perdido as contas ou parado de contar quando finalmente fechei nossa porta. Eu fechei ne? Fechei sim. Mesmo te tendo amor. Mas você entende né? Eu não podia mais continuar nessa caminhada sozinha. Eu não podia mais insistir sozinha. Você se afastava rápido demais, sempre que tinha chance. Palavras suas, não minhas. E cada vez que você ficava distante eu nadava e nadava e nadava no vazio tentando te alcançar. E eu me achava uma marinheira louca e ficava com medo de você ter pulado do barco, com medo de onde isso ia dar. Que você tinha medo eu sabia. Mas eu sempre achei que era de mim. E eu me diminuía pra não te assustar. Eu ficava engolindo amor e mais amor, na esperança de você me achar normal e continuar remando comigo. Mas eu tava só me afogando enquanto você se afastava mais e mais.  Porque eu achei que juntos buscávamos por terra, quando na verdade você era sua própria ilha.  Mas solidão de ilha não me cabe, sabe? Muito pequena pra dois. Eu queria e ainda quero praia. Acontece. Não era pra ser. Nosso barco era furado e a gente errou e falhou em tentar tampar tantos buracos. Só não era pra ser. E infelizmente, eu tive que aprender a nadar sozinha, porque meu bem, ainda que por agora eu não veja, mais a frente tem terra a vista. E uma praia me espera.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Só anda, amigo. Só anda.

É o teu caminho, porra! Sem tijolos amarelos brilhando, sem pote de ouro no final, sem largada, sem chegada, sem canto de vitoria. Se tropeçar, tá sozinho. Se duvidar, tá sozinho. Se errar? Volta. Se cansar, muda. Mas caminha, porra! É o teu caminho. É você e o céu. Você e tempo. Você e um maldito de um caminho, que só é caminho quando você decide trilhar! Então poe esse pé na estrada, na rua, na vida, e caminha, meu filho! Um atrás do outro. Rápido, devagar, se o caminho é teu, o ritmo também. Se quiser parar, para. Para e olha, e avalia. E depois começa tudo de novo, e de novo, e de novo, e em seguida mais uma vez. 
Mas caminha. Toda estrada tem um final. E depois desse final, um novo caminho. Porque é isso, tá fodido, vai ser pra sempre esse passo a passo. 

E o que a gente faz, então? 
Caminha, ora. 
Só caminha. 

terça-feira, 12 de maio de 2015

Peço desculpa,

 Se atrapalhei tua solidão ao longos desses meses, quando tudo que eu queria, era compartilhar a minha.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Coração

Esquece,
quem não te deu abrigo. 
Quem te deixou morrer a míngua, ao te tirar do peito.
Esquece,
quem fingiu não te ouvir bater, 
quem te apertou até te sufocar, 
quem não se importou em te socorrer. 
E perdoa.
Quem te entregou sem cuidado. 
Não foi por maldade ou por maltrato.
Mas por confundir amor. 
E te deixar doer. 

Rápido

"Com quantas mágoas se faz uma canoa?" Perguntou a Moça.
"Depende do tamanho do coração que tu queres naufragar" Respondeu o Pescador.

domingo, 10 de maio de 2015

Lego 1991

As vezes eu penso que tudo foi obra de um grande senhor brincalhão que um dia, entediado, resolver brincar de lego com a minha vida. Peça pra cá e lá, encaixando uma coisa aqui outra ali, assim que eu imaginaria o destino, se ele fosse uma pessoa. 
Um senhor barbudo, bondoso e entendiado, que acaba de ganhar da esposa uma caixa de lego. E de volta a infância ele vai montando e desmontando minha vida. "Como tá isso, minha velha?" ele deve perguntar pra esposa vez ou outra, e ao notar um olhar de desaprovação, desanda a desconstruir toda de novo minha historia. 
Mas ele é um senhor bondoso, dependendo do dia. As vezes imagino que ele só queira encaixar uma coisa na outra, tudo certinho. Outras pra animar um dia chato, considero talvez que ele, por pura diversão, bagunça e tenta combinar coisas sem o menor sentido. Por enquanto acho que ele não tem muita ideia do que vai construindo, e vai colocando peça por peça pra ver o que sai no final. Mas ele é paciente, e aparentemente não muito afim de me deixar ser princesa num castelo. Creio eu que na cabeça dele passem ideias de grandes construções, apesar de ser um péssimo engenheiro. Espero mesmo que ele saiba o que faz. Ou se não sabe, nunca pare de ter vontade de colocar mais peças e ir aumentando esse sonho de produção mirabolante que seria a única justificativa pra ele fazer e desfazer minha vida já construída tantas e tantas vezes, como se buscasse a perfeição. 
Sei que nessa caixa deve ter vindo mais de um personagem, mas nessa historia que é minha eu sou a bola da vez. Vez ou outra ele tira um outro da caixa pra me fazer companhia no novo projeto do momento. Mas tenho pra mim que ele olha bem, analisa o casal, tira o personagem e me deixa reinando sozinha na historia. Espero que ele esteja esperando aparecer o bonequinho certo do meu lado, porque não acho que possa atuar nessa construção sozinha. 
Mas no fundo, no fundo, mesmo agoniada e angustiada, por defeito de fabrica, já que eu devo ter sido uma entre milhões e milhões de pecinhas fabricadas, eu acredito nesse senhor, chamado destino. Vá ver ele é um gênio arquitetônico e eu não sei, ou na pior das hipóteses, um velho louco brincando de deus. 

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Para todos os fingidos amores

O meu amor possível vai olhar nos meus olhos e me reconhecer. De inicio, eu não vou saber quem é ele, porque ele será tão real que eu duvidarei. Ele vai se irritar com minhas criancices, minhas birras, meus ataques de fúria. Algumas vezes, ele vai bater a porta com raiva e ameaçar não voltar, porque ele é real demais pra fingir estar tudo perfeito. Mas ele vai voltar, vai me olhar como se tudo mais valesse a pena, porque assim como ele, o amor também será real. Meu amor possível vai me perguntar como eu estou e rir quando eu dramatizar meus dias. Vai gargalhar com meu mórbido humor desenvolvido nas horas em que me desespero, tendo certeza que eu sou completamente louca, e ele me ama, porque tudo é possível nesse mundo estranho. 
Esse mesmo amor, vai cuidar de mim num dia de chuva e febre, ou vai chegar suado e cansado num dia de sol e trabalho, a procura da paz dos meus braços. Vai me amar e vai me odiar quase com a mesma frequência, porque assim que as coisas acontecem. E vai se atrasar muitas e muitas horas em quase todos nossos encontros, porque pessoas reais, nunca chegam na hora. Ele vai olhar pra outras pessoas e mesmo sabendo que existem tantas outras felicidades possíveis, ele vai escolher ficar comigo, porque eu serei capaz de roubar dois ou três sorrisos, quando quase sempre, estiver distraída.
E é possível que meu possível amor acabe, mas ele terá valido tanto quanto outro, porque ele foi real. 
Mas tudo valerá a pena. Porque meu amor possível terá me amado além de palavras vazias. E na realidade da vida, é apenas a beleza dos gestos que permanece. 


Ouvi dizer que amor não tinha fronteiras. 
O meu, porém, não tem país.
Não tem porto, nem bandeira. 

Sem destino, nem parada, 
sem coordenadas no tempo,  
Meu amor é clandestino.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Sonho estranho.

Vou passar horas pra escolher outra roupa além daquela que estava preparada sobre a cama, desde a noite anterior, apenas para acabar vestindo aquele mesmo vestido. Na frente do espelho vou amarrar e desamarrar meu cabelo pelo menos três vezes, para no final solta-lo, por que disfarça melhor os ombros largos que eu tanto detesto. Vou ficar em duvida se uso o perfume novo que eu adoro, ou aquele antigo, que eu guardei apenas porque você gosta. Vou lembrar que esqueci alguma coisa na bolsa e quando voltar para buscar, já do portão, vou olhar no espelho pela milésima vez se eu não borrei o batom e pensar se não deveria mesmo prender o cabelo. Não, ressaltaria os ombros, vou pensar de novo. 
Vou sair de casa e vai estar abafado, como sempre. A vizinha vai acenar pra mim, como todos as vezes, e vai perguntar quando meus pais vem. Enquanto eu respondo, vou pensar se seria mais rápido pegar o ônibus da parada em frente, ou se deveria caminhar até o inicio da rua. Vou decidir esperar. Impaciente, vou caminhar até o inicio da rua, e acabar pegando o mesmo ônibus que pegaria se tivesse ficado no lugar. Quando eu sentar, meu coração vai acelerar e eu tenho certeza que vou pensar "meu deus". Quando o ônibus dobrar na Aug. Montenegro eu vou olhar aquele shopping que eu gosto e vou checar o horário como se isso fizesse o tempo andar mais rápido. A poucos metros da Alm. Barroso eu vou maldizer o engarrafamento e imaginar que descer e andar me faria ir mais rápido. Os carros a frente irão andar, o motorista vai correr, e um vento vai bater no meu rosto, me tranquilizando. "Vai dar tudo certo" eu vou pensar. Quando o ônibus dobrar o Bosque vai começar a chover. E vai chover até a Perimetral. Mas eu provavelmente não terei um guarda-chuva.
Eu vou descer no terceiro portão, saudosa da universidade, e vou caminhar até a beira do rio. Com o coração quase saindo da boca, eu vou avistar aquele banco, que fica embaixo de uma arvore baixinha. Tinha que ser naquele banco. Vou torcer pra não haver ninguém, e não haverá. Eu vou sentar e lembrar de tudo, repassando cada segundo na minha cabeça.
De algum lugar daquela cidade, daquela vida, você estará vindo. 
E antes que você chegue, eu vou embora.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Sobre aquele famoso vazio do peito.

Que Aperta. E aperta. E aperta. 

E  como saber o que dói a ponto de fazer falta quando nada te falta? O sol vive a te sorrir em dias tão azuis, tem braços prontos e a ponto de abraços ao teu redor, tem risos companheiros, a mesa tá farta, a vida corrida. E mesmo assim, algo te falta. O que falta? Se tens tudo? Nada. Um nada tão pequeno, e ainda assim, tão grande a ponto de comportar a falta gigante e apertar o peito. Nada te falta. E ainda assim tudo te dói. Que tudo é esse que cabe no nada? Que mundo estranho é esse que cabe na falta? Que falta é essa que se esconde na ausência do tudo? que tudo é esse, que não te serve pra nada, se ainda no tudo, faz falta? 

E de novo, aperta. E aperta. E aperta o peito. 
Deixemos pra lá, 
não é nada.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Repara na vida ao teu lado.

Mas repara com o cuidado e o carinho de quem aprecia e não julga. Repara as rugas nas testas e imagina que as aflições, ainda que por diferentes motivos, se parecem com as tuas. Nota com atenção os sorrisos discretos que passam ao teu lado, que ainda que não sejam pra ti, sorriem contigo. Presta atenção nos olhares - Como eu amo os olhares! Dizem tanto sem dizer. Nota como certos olhos sorriem. Nota como carregam sozinhos a tristeza que um rosto inteiro tenta esconder. Nota como, curiosos, desbravam o mundo a volta. Quantas histórias já viram os olhos que passam e te olham? Não perca seu tempo com o que não te interessa. Mas não deixe que a vida do outro passe despercebida. Note a presença. Note os suspiros. Note cada coração que bate ao teu lado quando cruzas uma esquina. Tudo deve ser notado. Sentido. Percebido. Não finja que não viu o feio, a dor, ou a miséria. Faz a existência do outro valer a pena, porque ainda que a primeira vista aquele alguém te pareça ninguém, ali existe uma vida que merece ser vista.
Deixa que teus olhos também sejam pontes. 
E abracem.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Olhe ao redor.
- está tudo rodando.

Olhe ao redor!
- está tudo girando.

Não olhe agora.
- porque?

Está desmoronando.

domingo, 5 de abril de 2015

Ando cheia de rimas pobres.

-Tudo inútil.

Hoje eu só quero rimar palavras cruéis.
E crueldade não rima.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Era mar de amar e tudo que ela fazia, era nadar em duvidas. 
Entre o céu e o fundo, mergulhava, afundava. 
Imergia em coisas que não sabia. Se afogava no que achava saber. 
O mar era fundo. E o amar também. 
E bem no fundo, de nada sabia.

Tarde demais pra pedir socorro?  

O barco flutua. A mente também. No mar só há duvidas.. 
O céu acima do mar é incerto, assim como o tempo. 
De certeza só o horizonte. E a corda que te puxa. 
 
Pegue a corda.
Aquela que te salva ainda é a mesma que te enforca.
Pegue, acorda. 
Aquilo que se ama ainda é o mesmo que te sufoca.
 

domingo, 29 de março de 2015

Quereres

Eu quero colocar a cabeça no teu colo, quando sentar no sofá  e assistir alguma das series que eu tanto gosto. Eu quero correr até porta de casa pra te receber, com aquele meu vestidinho solto cor de rosa. Quero enrolar na cozinha, te enchendo de beijos, na hora em que estiveres indo embora, por cada segundo ao teu lado ser imperdível. Quero chegar na tua casa de surpresa, num dia de domingo chuvoso, com um saco de pão de queijo, pra tomar café com tua mãe e ouvir ela falar de ti. Quero sentar, envergonhada no sofá da tua sala, e pensar em mil assuntos pra puxar com teus pais, e acabar só sorrindo de nervoso. Quero te acompanhar até as aulas, e sair das minhas contigo a minha espera. Quero correr atrás do ônibus contigo. Ouvir tuas musicas e te mostrar as minhas. Quero rir e te beijar escondido da criança que espia nosso amor. Quero te ligar todas as manhãs e fazer todas as manhas possíveis. Quero te irritar. Quero te dar paz. Quero te cuidar. Quero ser tua menina. Tua flor. Teu amor. Tua besta. Teu maior erro. Teu melhor acerto. Quero ser tua. E de mais ninguém.
Deus, eu quero muito.
E quero tanto!
E quero logo.

Com um quase amor que não vê a hora de ser inteiro,
D. 

quarta-feira, 18 de março de 2015

Do peito.

Estranha. Alheia. Perdida. Afogada. É como eu me sinto. O que eu sou. Eu sou isso. Eufórica. Descontrolada. Emotiva. Tudo isso preso e sufocado em 1,65 cm de uma pessoa que não sabe viver a própria vida. Cega. Surda. E estridente. Eu grito. E grito. Absurdos, euforias, metáforas jogadas em caras alheias, por puro capricho. Egoísmo. Egocentrismo. Cansaço. Dessa imagem que em nada reflete o aqui dentro destruído. Horrível. Cansada. Sozinha. Certa em não querer dividir com ninguém o peso dessa companhia. Pesada. Esmagada. Culpada. Culpa minha. Errada. Toda e completamente. Sempre. Triste. Triste. E triste, sorrio. Porque tudo sempre cabe dentro de um sorriso. Fácil. Desistente. É sempre mais fácil apenas sorrir.

domingo, 15 de março de 2015

Das lembranças.

Meu avó chega na casa de madeira simples, naquela cidade do interior onde o tempo novo parecia ainda não ter chego. O relógio, lembro bem, daqueles de tic-tac, preto, com uma flor bonita vermelha no centro, devia bater alguma hora perto das seis. Vai saber. Queria mesmo era lembrar do relógio, que era xodó da minha vó. 
Ele larga a cesta cheia de peixe e orgulho na pia, e o cacho de banana que trouxe pra mim em cima da mesa de madeira gasta na cozinha. Me sorri. 
Senta na mesa, e grita pra minha vó, no quintal, que prepara o fogo a lenha pro assado de mais tarde "Minha velha, cheguei! Traz um café pra eu tomar com essa pequena" 
Minha vó entra na cozinha com seu coração do tamanho do mundo, passa as mãos na cabeça do meu avó, e lhe dá um beijo grande onde já não há cabelos. 
"Quer me ajudar?" Ela sorri pra mim. 
Eu vou, pequena e cheia de vida fazer a parte que me cabe no ritual de chegada do vó. Ponho a caneca dele na mesa que eu mal alcanço. Ele ri e me poe no colo. Vovó faz tapioca no fogão. Vovô aperta minha barriga e faz sons engraçados pra eu rir.
Era o ensino do amar. 

Era o amor.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Eu estou a espera do incrível momento de sermos. E então, melhor que tudo, melhor que antes, no futuro momento presente, seremos.

Nós.

domingo, 1 de março de 2015

Era um mar. Sem nada a vista.

Nada.
E nada.
E nada.
E a frente tem apenas água.
Tarde demais.
Ainda que continue nadando e nadando no vazio.
Tarde demais.
Já afogou a alma.
(Aplacou a magoa?)
Já se afogou.

Que afunde então. 


Desculpe, transbordei.

Desculpa se mais uma vez eu venho aqui, onde você não está, onde você não vê, pra dizer que o meu coração é teu. É teu. E me dá vontade de gritar e me debater e te bater até que você perceba e me queira tanto quanto eu quero você. É você. Ainda é você, e eu me pergunto todas as manhãs e todas as noites e todas as contáveis e quase insuportáveis horas do dia quando deixará de ser você, como se a ideia de que eu não vou amar mais ninguém tivesse sido costurada insanamente na minha cabeça e por mais que eu tente, minha visão de amor, estranho, errado, psicótico, obsessivo, qualquer que seja, ainda é você. E se você acha que eu não me odeio por acordar todos os dias te querendo ainda mais do que o dia seguinte, claramente sem motivo, já que chegamos ao triste ponto de nos desconhecermos, te digo cheia de certezas, que todas as duvidas que eu tenho a cada segundo da minha patética vida desaparecem no instante em que fecho meus olhos e só vejo você. Não é bom, não é saudável, não é direito querer alguem alem de você mesmo e desejar todos os dias que essa pessoa note o quão importante é na vida insignificante de uma pessoa que aparentemente não sabe a hora de parar. Eu não sei parar de querer teus abraços, de querer ser a causa do teu sorriso, ou motivo do teu amor, ainda que eu tenha parado de acreditar que um dia, por uma força estranha do universo, que nunca conspirou a meu favor, estranhamente mudem os ventos e uma vez na vida as coisas aconteçam como eu gostaria que elas acontecem. Mas elas não vão. Eu não vou mudar, você não vai, porque aparentemente você e eu somos uma bagunça maior que esse texto estranho que eu vomito aqui, antes que me sufoque e me mate como esse gostar ridículo que eu insisto em sentir, tem me matado a cada dia até o ponto de não saber mais quem sou.


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A Maria tão Maria.

Maria andou dando uns tropeços na vida, é bem verdade. Maria que só sorria, viu que a vida não era rosa da cor da flor preferida, nem tão doce como o doce da tia da esquina. E a verdade, seja ela qual for, machucou nossa Maria, deixando a menina que tudo sentia demais, ressentida e tristonha da vida. A Maria da gente, guardou os dentes cheios de risada, e já que só andava levando rasteira, fez foi vestir a dor, já que agora vivia se sujando de magoa quando caia. 
Mas a Maria tem uma coisa dentro dela, que sei não, viu. Coisas de Maria. Um dia ela levantou tão certa das coisas, que não teve destino, não teve  acaso ou caso nessa vida nenhuma que fizesse a moça dar trás. Tava decidida. Maria, minha gente, foi acreditar (E acreditando a gente torce pra Maria ensinar pra gente como faz pra não duvidar). 

Das profundidades.

Ela olha por todos os lado e se sente cansada de ver tanta gente. Ela não quer mais olhar pra trás à procura de algo que se perdeu no meio do caminho. Nem tão pouco se sente a vontade de olhar pra frente, a procura de algo que talvez cruze seu caminho. Cansada, ela olhou pra dentro. Mas lá só havia uma escuridão tão grande e tão profunda, que ela não soube como voltar. Permaneceu do lado de dentro. Desapareceu dentro de si mesma. Não houve pedido de socorro ou resgate. E ninguém percebeu.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Da ultima carta.

Oi.

Sabe, eu tenho pensando esses dias, sobre despedidas. E então eu me lembrei de quando eu peguei aquele avião que mudou a minha vida. Eu não chorei sabe? Enquanto eu subia as escadas do avião, sentava, colocava os cintos, e olhava a aeromoça dizer aquelas coisas de sempre, eu não chorei. Eu estava pausada. Como a minha vida estava naquele momento. Você não foi ao aeroporto. Você não atendeu minha ligação de adeus. E eu não pude me despedir de ti. E ali, naquele avião, sozinha, eu embarquei com uma solidão que seria minha pelos próximos 18 meses. E eu não chorei. Mas acontece que desse dia pra cá, muita coisa mudou aqui dentro. Tanta coisa! Coisas que você fez questão de não acompanhar. Porque você não quis dividir comigo minhas alegrias ou tristezas.
Como te disse, eu tava pensando em despedidas. Acho que eu não chorei naquele dia, porque naquele dia eu apenas me despedi de mim. E eu não estava triste por deixar pra trás quem eu era. Pra ser sincera, eu não gostava de quem eu estava me tornando. Eu ainda não gosto muito, sabe, mas eu aprendi a aceitar o que não se pode mudar e mudar o que é permitido. Acho que quando eu subi naquele avião, eu não sabia, nem fazia ideia, mas eu tava pausando a minha vida pra poder aprender a me perdoar. Eu tava muito pesada sabe? E eu aos pouquinhos eu fui fazendo isso, me perdoar, me aceitar. Engraçado, né? a gente acaba se achando no meio de tanta solidão. E se entendendo. 
Mas isso foi apenas eu. Comigo mesma, fazendo as pazes. Mas eu fui incapaz de me despedir de ti. Estranho, isso. Eu me desapeguei de tanta coisa. De um país. De uma vida. De um bando de pensamento inútil que eu tinha. E não me desapeguei de ti. 
Só que eu outro dia, enquanto conversávamos, tive que te ouvir dizer que só estavas na minha vida por mim. E eu pensei, que todo esse tempo, eu nunca te deixei se despedir de mim. E chegou a hora, não? Acho que até passou. E então eu chorei. Chorei a despedida que nunca tive. Chorei a despedida que nunca terei.
E entre tantas despedidas, eu pensei no que eu gostaria de te dizer, pela ultima vez. E eu ri. Ri, tristemente, pois não havia nada. Eu não deixei nada por dizer. Eu não guardei nenhum eu te amo, ou sinto sua falta. Nunca deixei de dizer que o que fizestes na minha vida. E por isso, eu fico feliz comigo. Meu amor foi verdadeiro, foi sincero. Até minhas falhas fiz questão de esclarecer. Sabes cada ponto do caminho em que tropecei. Depois de tantas meias despedidas, não sobrou nada pra um adeus final. Nem a vontade de te agradecer. Não fizestes nada. E hoje eu aceito isso. E olha, eu me perdoo.
E me perdoando, te digo o mais sincero adeus. E torço pra que eu seja feliz.

Com amor, 
D.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

No analista.

Chegou atrasado como sempre chegava, pois essa era sua estranha forma de pontualidade. Deitou-se no sofá onde deveria apenas sentar, pois já que estava ali, queria fazer como nos filmes. Do outro lado, de uma distancia impessoal, o analista o observava. Cara estranho, pensou.
- Então, doutor. Eu tô sentindo sozinho, sabe? Daquelas solidões doidas, estranhas, que não passam. Outro dia eu estava no ônibus, veja o senhor, cheio. E eu fiquei pensando nas coisas. Fiquei pensando naquele cara que disse uma vez sobre estar sozinho em multidões. O senhor conhece essa né? Claro que conhece, maior clichezão. Pois é, tava pensando nisso. Como é que eu explico pro senhor? Deixa eu ver. Imagina que a sua mãe te leva num show. Ok, comparação meio estranha, mãe levando criança em show. Mas é isso mesmo. E no meio da multidão a mão solta da dela, e você fica lá, pequeno, perdido no meio de um monte de gente grande, que não te vê. E você olha pra todos os lados e não vê nenhum rosto conhecido. Não tem saída. Você não tem dinheiro e mesmo que tivesse não saberia voltar pra casa, afinal, você é uma criança. Imagina a solidão dessa criança. Imagina o desespero. Pois é, doutor. Eu acordei me sentindo assim. Deu pra entender? Acho que minha hora acabou, né? Então vou indo. A gente se vê por ai, no meio da multidão. Brigado ai pela ajuda. Até.

Pela janela, o analista observou o moço sair do prédio e pegar um ônibus, ironicamente, lotado. Estamos todos sozinhos, pensou. E foi abrir a porta.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Sobre algumas escolhas.

Muitos dias eu não abria a janela, porque não fazia sol. Hoje fez. E quando abri a tal da janela um passarinho entrou. Tão pequeno e frágil e ao mesmo tempo tão ávido de tudo. Entrou com tanta pressa, como se desejasse a muito tempo o calor do meu pequeno quarto. Mas aqui dentro, agoniado, se debatia, de um lado a outro. Como sairia? Até que parou em cima do armário, olhou (acho eu que) cuidadosamente onde se encontrava, visualizou a janela, abriu as asas num impulso só e ganhou o mundo. Depois de cinco minutos do que parecia um sofrível desespero, ele conseguiu sair por onde havia entrado. E eu que apenas observava curiosamente a cena, me senti meio pássaro. Minha janela era maior, meu quarto era maior, mas eu não passava de um passarinho assustado num lugar estranho. Eu queria o vento. Eu queria o mundo. Eu queria asas. Mas no momento eu apenas me debatia, freneticamente, num espaço minúsculo dentro de mim mesma. Mas assim como meu passarinho e sua janela,  hora ou outra eu pararia de gastar minhas energias inutilmente. Tudo que eu preciso é visualizar com calma minha janela. Minha saída. E sem medo, partir.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Do que foi.

Eu ando com saudade. E por incrível que pareça, minha saudade anda sem rosto. Sem nome. Sem cheiro. É uma saudade pura e simples, assim desse jeito, só. Uma saudade. Tão grande e tão mansa, que mesmo cheia de delicadeza me aperta o peito. Não é saudade do tempo especifico. Datada. É uma saudade estranha. Sem paredes. Ou portas. Ou grades. Uma saudade céu. Tão azul e infinita que me dói a vista, mesmo abrilhantando os olhos. É saudade, apenas.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Sobre como eu seria feliz num milésimo de segundo.

Eu queria desligar. Era pedir muito, deus? Desligar tudo por uma mísera fração de dois segundos. Um. Meio. O que tempo que me fosse permitido. Eu aceitaria tudo, qualquer pedaço de  tempo, que pudesse me ser concedido. Desde que tudo parasse. Tudo. A cabeça, o coração, o corpo. Todo os fios que se ligam uns aos outros e movem essa maquina dramaticamente perturbada e psicótica chamada de Eu. E por alguns segundos, detrás do vidro sujo dos meus olhos, a alma dormiria quieta e profundamente. Sem batimentos. Sem pensamentos. Já não seria preciso ver a madrugada entrar pela janela do quarto enquanto a mente se inquieta pensando o que ele estaria fazendo. O que que ele estaria pensando? A vida dormiria. Por alguns segundos, o mundo poderia acabar. Explodir. Você, ele, qualquer outro, tudo. Tão desnecessariamente indispensáveis nesta vida, minha vida, vida? não seriam nada. Porque por alguns segundos, não existiria vida. Não existiria nada. Desligado. Imóvel. Em paz. O silencio do outro lado do mundo já não machucaria a boca que quer tanto falar. E por segundos, se juntaria ao silencio do escuro que é não sentir nada. E eu descansaria. Nada mais precisaria fazer sentido, ser entendido. A ligação que não veio. A resposta. A falta de carinho. Nada. Mesmo que por uma quantidade ínfima de segundos, não haveria saudade, não haveria amor, qualquer sentimento. Ou vontade. O sentimento de vazio que me não me deixa dormir. E eu, meu deus, eu dormiria. Incrivelmente cheia de nada por estar vazia de tudo.
Mas é pedir muito. Eu sei.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Das memórias

Ainda que meus olhos esqueçam tudo que vi pela vida, quando minha memoria não for mais capaz de vencer o tempo, que meu coração se lembre de tudo que vivi e me aqueça.
Ainda que nomes, rostos, rotinas, se embaralhem, que o sentimento bom ou ruim, permaneça.
De uns ou outros sorrisos, não faço caso de lembrar motivos. Mas que sorri, apenas.
Ainda que feliz ou infeliz, vivi. E que tudo, valeu a pena.
Que do meu coração, fiz caixa de lembranças, ao invés de deixa-lo empoeirar-se, numa gaveta.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Das nossas pequenas contraditorias verdades.

Aceito o que tens de diferente, pois com paciência, aceitastes meu papel de louca. 
Aceito tuas musicas incomuns, pois em silencio, aceitastes meus gritos descompensados.
Aceito tuas brincadeiras e teu lado infantil, pois vi teu coração de criança, pronto pra caber o mundo.

Não somos iguais.
E nessas diferenças, não nos completamos.
Mas aceitastes tudo que te irritava, enquanto eu aceitava tudo que me confundia. 

Deixo que digam, deixo que falem.
Pois enquanto eles vêem coisas além de ti, fico com o que me ensinastes a muito tempo - ver além das coisas.
E dentro de toda estranheza vemos, juntos, amor.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Sobre umas pequenas grandezas.

Sentou-se na calçada atrás da casa da Vó, calada e chorosa.Uma menina pequena e birrenta, antes cheia de vida, agora muda e com os olhos vermelhos de tanta tolice. Não queria conversa. Não queria doce da tia da venda. Não queria bolo quente que esfriava na mesa. O que queria ela, então? 
Chega o Vô do trabalho, beija com carinho a Vó, deixa as compras em cima da mesa de madeira e corre os olhos pela casa, em busca da pequena. Acha só os olhos da Vó, apontando para a porta. O velho suspira e sorri, como quem diz ir resolver o caso. Ela sorri com doçura de volta, corta um pedaço do bolo já quase frio, como quem diz que ele há de precisar disso. 
Ela é igual a mãe. E a Vó. Lembra o velho cheio de riso enquanto caminha pra porta carregando sua cadeira de balanço preferida, e em uma das mãos, um frio pedaço de bolo.
Se põe ao lado da menina, que olha calada para os pés, enquanto uma lágrima ou outra se estilhaça nos paralelepípedos da rua tão velha quando seu Vô. 
"Deixei ele ir, Vovô." Diz a menina, envergonhada e triste. 
"Tudo bem, filha."
"Ele não cantava mais, Vô. Eu não queria deixar ele ir. Mas ele não cantava mais."
"Tudo bem, filha." Repetiu com carinho, passando as mãos nos cabelos da pequena. 
"Eu abri a porta. Achei que ele fosse ficar feliz. Mas ele sumiu. Ele não voltou, Vô. Eu fiquei aqui, esperando ele voltar, e ele não voltou. Eu só queria ver ele feliz. Mas ele sumiu. Ele não gostava de mim, Vovô?"
O senhor olhou o céu bonito e azul, deu uma espiada para dentro da casa velha, a ponto de ver uma alegre senhora passando o café. Sorriu. 
"A gente não sabe, filha. Se eu fosse dizer, dizia que ele gosta. Mas não tem muita importância isso não."
"E então o que importa, Vô?"
"Importa se você gostava dele. Porque agora ele está feliz. Eu tô orgulhoso da minha pequena ter aberto a porta. Você deixou ele ser feliz. Isso chama amor, filha."
"Amor, vovô? Não quero amar, vovô. Amor deixa a gente triste." 
"Só se a gente não souber amar, mocinha. Ele não cantava. E estava triste. Doeu em você a tristeza dele, e o amor te fez abrir a porta. E toda vez que você ouvir um canto, vai ser seu amor cantando."
A menina levantou a cabeça. Olhou o céu clarinho e no fundo do coração ouviu um cantinho suave. Todos os cantos seriam pra ela agora. Seriam dela, mesmo que ela não visse. Sorriu. 
O cheiro de café invadiu a rua. 
"Vô, vamos cantar pra vovó? Ela fez bolo." Riu perspicaz a pequena enquanto corria cozinha adentro."
" Eu canto todos os dias, meu passarinho. Todos os dias." Disse o velho a si mesmo, enquanto trazia a cadeira.

Na mangueira ao lado, um alegre passarinho, cantava.


Sobre dois instantes quase eternos de raiva.

Chegou numa hora da madrugada que eu não conseguia mais chorar. Simplesmente não havia mais nada ali pra ser colocado pra fora. Eu havia chorado tudo, por tudo, fosse parcelado ou de uma vez, eu chorei uma vida inteira. E sequei. Sequei cada gota de tristeza do meu corpo, até que restasse uma raiva tão grande e tão profunda de mim, apenas de mim. Porque, olha, eu posso ser egoísta, e boba e dramática e ter todos esses bilhões de defeitos que eu já cansei de encarar no espelho todos os dias. Mas eu jamais botei a culpa em ninguém, além de mim. Se eu amei, foi por minha culpa. Se eu chorei, foi minha culpa. Se eu decidi ser feliz, foi por minha culpa. Cada lágrima que eu derramei, foi por não ter sido forte o suficiente. E a culpa é minha. E eu estou com raiva. Raiva por um coração tão meu, tão ridículo. Tanta raiva que eu não consigo chorar. Não mais. Uma raiva de mim. Por ser tão eu, por ser tão tudo. Por querer carregar o mundo, e tropeçar com o peso. E cair de cara, e cair no chão. E por gostar da vista. E ficar aqui. Caída. 


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Sentido. No sentido de ter e haver.

Cansei dos meus discursos prontos e das minhas frases feitas, que te dizia desesperadamente na esperança de te fazer entender que meu coração é teu. Ele é. E eu não quero partir para mais um infindável e cansativo clichê de como o amor me tomou o peito ou sobre o que essa maldosa distancia fez com a gente. Não vou. Não espere mais de mim declarações bobas ou chamados melosos, como quando te chamava de amor ou inventava milhões de apelidos fofos pra tentar criar uma cumplicidade que há tempo não tempos. Veja bem, não digo que não sinto mais, eu ainda sinto aqui tudo que eu sentia. A vontade de estar junto, de compartilhar, de ter uma rotina, de te ver todos os dias, está tudo aqui, talvez não perfeitamente como eu gostaria, mas aqui. E eu estou guardando tudo de melhor que posso te dar, se um dia, na minha volta estiveres, ainda, disposto a receber. 
Mas eu estou aqui. E você está ai. E parecemos tão cansativamente longe, que ficar te dizendo palavras perdidas em redes sociais e aplicativos não parece nem de longe, ser suficiente. Não pra mim, mas pra ti. Odeio aquela sensação de estar te deixando desconfortável com meus pedidos desesperados de atenção embutidos em um "Estou com saudade". Pois eu sei, você sabe, que eu sinto saudade todos os dias de quando havia um "nós". E esse desgaste de te tentar te lembrar o quanto é importante pra mim me saber importante pra ti, me consome e me tira a graça dos intermináveis dias que ainda preciso encarar sem tua presença. Porque não estas aqui. E eu não estou ai. E eu te amo com todo coração, mas não quero mais te falar sobre isso, porque sabes e eu acabo por cansar a nos dois repetindo juras, cujos ecos silenciam antes de chegar em ti. Eu estou aqui, amor. Pronta pra te ouvir e estar contigo. Mas enquanto não quiseres, nada posso fazer senão a estar aqui. À espera. Com todo meu amor.