terça-feira, 10 de novembro de 2015

Amarga Maria

Outro dia Maria topou com a escuridão da vida. Coração turvou diante de tanta falta, porque pra onde Maria olhava, não via nada, faltada era tudo. E Maria pensava se agora ela não andava olhando despercebida pras coisas que faltavam, ou se a falta das coisas que ela sentia se devia ao fato de ter inventado tudo que via. Verdade era que Maria só via mentira por onde andava. E as vistas de Maria foram ficando cansadas, doídas, sentidas da verdade que via, sabe? E por mais que Maria chorasse, e como Maria chorava! Não tinha dor e água que limpasse a vista e desanuviasse penumbra que se estendia sobre os olhos de Maria. Cade vez que a triste da Maria olhava a feiura de fora, a feiura da tristeza se espelhava pro lado de dentro, e ia se entranhando no coração de Maria como fogo que pega em galho seco, quando não cai gota de chuva que seja sobre a esperança do povo. Coração de Maria secava a olhos vistos, e Maria não via. Mas num dia bandido e sofrido como outro qualquer, bateu um ventinho vadio de esperança fugido vindo de onde não sabe até hoje. Só se sabe que a tal da Maria fechou de vez os olhos e sentiu o vento, que vinha quente alegrar tanta tristeza. E foi é fácil pro vento se infiltrar em tanta rachadura que a secura da falta tinha deixado no coração seco da Maria. E como planície que inunda, Maria sentiu, quando tanto vazio se encheu do tal esperançoso vento. E quando isso aconteceu,  um tanto assim de gente cega viu que ela via sentindo e não que sentia vendo. O que fazia todo sentido, porque mesmo quando o mundo todo tentava cegar Maria, Maria é que sempre acabava cegando todo o mundo, sendo a Maria. 

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