domingo, 30 de novembro de 2014

Sobre o Seu Zé.

Dai a nossa Maria conheceu seu Zé. Seu Zé sempre quis ser alguém. Ate que percebeu o que todo mundo já sabe a anos, que todo Zé nasce ninguém. Foi ai que Seu Zé cansou de tentar ser alguma coisa e decidiu que ia ser era coisa nenhuma. Bem, pelo menos foi isso que o Seu Zé disse pra Maria. E Maria como era Maria, fez só acreditar e aceitar o ninguém que havia na pessoa do Seu Zé.
Semana passada, Seu Zé, também conhecido como ninguém, decidiu que ia abrir uma quitanda naquela esquina famosa, sabe? Aquela uma, que todo mundo quer virar e encontrar o que tanto procura. Seu Zé disse, dizendo Maria, que já que ele não ia ser alguém ia era ser o ninguém que todo mundo procura. E ia vender na sua venda o que ninguém queria.
A Maria, já que não queria coisa alguma foi la com Seu Zé comprar alguma coisa. E perguntou pra ele o que tinha.
Zé disse que amor não tinha. Nem saudade. Nem diabo de falta nenhuma porque tava faltando era tudo, já que tudo era o que todo mundo queria. E ele disse pra Maria que só o que tinha era preguiça.
Quê que a maria fez? Maria aceitou, ué. Tava com preguiça.

sábado, 29 de novembro de 2014

Conversas de mesa de bar.

- Sabe qual é o teu problema, menina? Deixa eu te contar. Não é que tu penses demais. Porque se tu parares para pensar, não tem como desligar o pensamento, tem? O teu problema é que tu pensa demais nas coisas erradas. Entende? Mas vê bem. Não to dizendo que certo seja coisas boas. Tu não és nenhuma Piaf pra ficar pensando na vida em cor de rosa todo tempo. Pensa nisso. Ou não pensa. Só bebe logo isso ai pra gente pedir outra.
 
Ela refletiu por segundos. E então virou o copo.
Cansei de mim. Quero ir embora. Como faz?

Eu, Pangeia.

Haviam barreiras, mas não havia distancia. Se os desentendimentos criassem vãos, os abraços poderiam a qualquer minuto se fazer de pontes e refazer ligações. Nada estava perdido, ou desencontrado. Mesmo quando ilha, havia amor a vista.

Mas então, deixando apenas de ambos os lados, o contorno do que um dia foi um encaixe perfeito, as coisas partiram-se ao meio, fragmentadas pelas diferenças. Enquanto oceanos de coisas mal resolvidas surgiam e aprofundavam distancias.
E de repente, não haviam mais pontes. Não havia mais abraço. Não havia mais sorrisos. Eram apenas 9,661 km reais. E incontáveis km de coisas imperceptíveis.
 
Olhar além, e perder-se na imensidão azul do que ainda estava por vir, sem saber se haveriam braços de espera para ancorar, dava medo. 
Mas, se não houvesse coragem para encarar de frente o (a) mar, corria-se o risco de continuarem a ser sempre, apenas continentes, ilhados na própria solidão.

Das coisas que li e que ficam.

"Deixo-te livre, de qualquer promessa que fizestes para mim. Deixo-te livre, de qualquer saudades que possas vir a ter. Deixo-te livre, de qualquer coisa que te ligue a mim. Deixo-te livre, de todas as risadas, brincadeiras e olhares que tivemos. Deixo-te livre de tudo. Afinal, já era hora. Já estava na hora de deixar de criar esperanças, de encontrar rimas em versos que não combinam. Deixo-te livre, do nosso “se”, do nosso talvez, do nosso “algo” que nunca irá existir. Deixo-te livre de nós."

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Hoje tem medo, no menu.

O que eu faço se eu tiver pego uma estrada que apenas contorna a tua? O que digo para mim quando descobrir que meus passos, que caminham na esperança de um dia acompanhar os teus, na verdade caminham para longe de ti? Como eu ajo, se minhas decisões me transformarem em alguma desconhecida aos teus olhos? Pelo que eu choro, se eu te desconhecer? Pra quem eu olho, se meus olhos foram incapaz de enxergar os teus?  Com quem eu falo, se a frequência das minhas inseguranças começarem a incomodar teus ouvidos?O que eu tomo, se a tua ausência gritar nos meus? Onde eu me escondo, se eu não puder me afogar no mesmo copo? Onde eu enterro o corpo, se o nosso amor morrer pelo caminho? Por qual dos dois corações eu rezo, se a magoa chegar sem aviso? E se tiver aviso, quem eu aviso?




O que eu faço de mim, se um dia eu for só minha?

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sobre um estado de raiva.

Eu devo ser a criatura mais pateticamente patética desse planeta insano. E olha que, como tantos seres humanos ridiculamente patéticos, pra eu ganhar esse posto, então amigo, eu devo ter excedido todos os graus imagináveis, que até o maior termômetro de estupidez humana, se um dia inventado, seria incapaz de quantificar a inigualável capacidade do meu ser de ser tão incrivelmente burra nesse mundo.

domingo, 16 de novembro de 2014

Emenda.

E não vim pra esse mundo com paciência suficiente pra aguentar essa vida que me testa a todo instante a qualquer custo. Sempre dois caminhos, todo o tempo. Duas escolhas, o tempo todo. Pessoas, destinos, tudo a merda dessa vida me dá em dobro. Como se toda minha historia fosse parte de um programa de quinta, mal escrito e que ninguém assiste, baseado numa surreal jogada de cara ou coroa, da qual depende minha vida. Uma puta duma sacanagem. 
Mas ai veio você. E pela primeira vez eu não quis mais viver no meio de nada. Troquei a corda bamba do circo que era a minha vida pelo o atirador de facas. Quis ser o alvo. Teu alvo. Abri os olhos enquanto tu me atirava teus despropósitos com a certeza infinita de que era o teu risco que eu queria. E a aquela faca me acertou em cheio. Mas palhaço de circo não é feliz. Quando já não tinha mais caminhos pra me dividir, veio a vida e me dividiu ao meio. E você, sempre tão inteiro, não quis e nem pode arcar com o peso das minhas metades. E eu, apesar de certa, partida, tive que partir sem você. 
Agora tenho duas metades. Parte Pierrot, parte Arlequim. Parte que sorri, ri e aproveita a vida. Parte que sufoca a risada, aos gritos. 
Ambas, apaixonadas por ti.

(a Mar)ia.

Agora a doida da Maria disse que ama. Sentiu um formigamento no peito, e disse aos quatro ventos que era amor. Ai Maria, o que tu sabe do amor, menina? Maria pensa que palavra de amor é feito semente que a gente joga no vento e vai florescer em algum peito. No peito da Maria ainda não teve terra queimando, secando ao sol do desprezo. 
E Maria ainda diz que sentiu aquele ventinho na barriga, da tal das borboletas. Foi porque ainda não deu tempo da falta de amor roncar na barriga da Maria. E ela, pessoas, diz que quer dar pro menino amor as suas horas, seus dias. Nunca viu seu relógio parar na angustia da espera, a Maria. Mas quem disse que a Maria liga? Liga é pra ele, a coitada. Liga de noite e dia. Porque ligou o coração e desligou a memoria. 
E alguém, pelo amor de Maria, diz alguma coisa? Diz é nada não, minha gente. Deixa Maria encher do amor. Que com sorte, Maria chove amor na secura da gente.
Sem sentir, abraça, sem sentido, o perdido.
E corre
Para além do possível, insensível.
A tudo que dizem,
previsível.
E escolhe a ausência,
ao grito.

Cansou de chamar em vão.

domingo, 9 de novembro de 2014

Pintei meu guarda chuva de amarelo, pra ser tua menina. Mas na primeira chuva, ele desbotou.

sábado, 8 de novembro de 2014

Eu quero que o amor me tome inteira. Pra que eu possa ser, por inteira, amor. Seja de repente ou de sobre aviso. Apenas quero que ele tome todos os meus dias, inunde minhas horas e transborde em meus pensamentos. Seja o ar venenoso que enche meus pulmões de vida, até quando me mata. Invada cada centímentro do meu corpo, de modo que até as milimétricas gotas do meu suor sejam transpiros de amor. Quero que o amor me destrua. Me arranque de todos os medos que me prendem ao chão. Que me sustentam. Ainda que depois que ele se vá, eu morra a mingua, como um galho seco. Mas antes disso, quero que o amor me floresça. Que suas raízes tomem lugar em minhas veias, percorram meu corpo e me dilacerem, de dentro pra fora. Que o amor me corte por inteiro. E faça sangrar cada parte desta casa inabitável que sou sem ele. Faça morada. Me torne um lar. Quero que o amor me faça abrir os braços e desobrigada, ser abrigo, mesmo estando eu, desabrigada.
Que ele faça da minha existência o que entender. Porque eu não me pertenço. Porque fiz dele meu rosto, meu nome, minha identidade.
E parti.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Ei,

Você me confunde. E me deixa perdida. Eu nunca sei o que fazer, quando se trata de ti. Não sei quando é suficiente. Não sei quando passou do limite. Não sei quando importa, quanto importa. Se importa alguma coisa. Eu não sei de nada.
Eu sei que eu to aqui. E você ai. E você é a única coisa que me faz estar em outro lugar. Já disse tantas vezes o que sinto, que quando falo, parece palavra estranha na minha boca. Tipo quando a gente repete a mesma palavra varias e varias vezes, ate ela perder o sentido e ficar meio estranha. Tipo o que eu sinto. 
Se você me perguntasse o que eu sinto, o que eu quero, eu te diria mais uma vez, tudo que ja repeti tantas vezes. Mas no momento, eu não sou suficiente pra você. Nem pra mim talvez, porque me sinto pausada no tempo da minha Propria vida. Vivendo algo que não me pertence. 
Voce não entende. Ou talvez entenda. Vai saber. Só você mesmo. Porque se tem coisa mais difícil nessa vida é saber o que pensas. Eu posso dizer que horas aquele ônibus mais imprevisivel vai passar. Mas eu não posso dizer o que você sente. Por mais que eu queira acreditar no melhor. É 50\50 não é? Tem sempre a chance de eu estar errada. Ou certa. 
Mas eles me dizem, todos eles, que és inconstante, desapegado, que não sentes nada. Tudo invenção minha. O sentimento todo. Mas eles não sabem de nada. Ou sabem? estarão eles errados ou eu, me fazendo de cega?
A verdade, a verdade é que você me bagunça inteira. Deixa meu peito um zona. E só você pode arrumar. Mas eu nunca sei se você saiu pra respirar ou se bateu a porta com força pra nunca mais voltar. Eu não sei. E esse não saber machuca, sabe? 
Eu não sei se eu deveria ir de vez, mesmo querendo ficar. Porque eu tenho um medo filha da puta de não saber seguir em frente. Seguir eu sei. Mas sem você? Eu não sei. 
Ainda tenho aquela sensação que eu estraguei tudo indo embora. De que seriamos felizes. De que a culpa foi minha. Que eu fiz tudo errado. Será possível que o amor seja pra valer só de um lado? se não, o que diabos é isso que eu sinto?
Não sei. Só que essa bosta de sentimento não passa. E, ou eu sou muito burra, ou eu sou muito burra.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Maria.

Maria pensa. Pensa que sabe. Pensa que é livre. Pensa que pensa. Pobre Maria. Ninguém disse pra ela que nesses dias de hoje não tem mais espaço pra pensamento nenhum. Ainda mais os coloridos de Maria. Porque a Maria, a Maria pinta e borda. Pensa que a vida é alegre. Coitada da Maria. Nunca teve seus dias tingidos pela escala de cinza da vida. Ainda, né Maria?
Mas Maria é teimosa. Oh, Maria! cismou de sorrir docemente pros dias. Justificavel. Maria, minha gente, nunca teve o sorriso amargado pelo azedo das horas que haverão de vir. Não dá pena, da Maria?
E Maria ainda dança! Acredita? Mesmo a gente falando, Maria, toma tento na vida. Quem dança uma hora troca os pés e tropeça. Ou leva rasteira. Mas quem disse que Maria escuta? Diz que tem musica alegre tocando na cabeça. Ainda não ficou surda de gritar desaforos pra vida, a Maria.
Maria faz tudo errado nessa vida. Maria pensa, dança, canta, sorri. Quer viver, a tal da Maria. Ninguém diz pra ela que nessa vida, não se vive, Maria! Só sobrevive. Mas é muita Maria dentro da Maria. Tanto que ela não consegue conter. E quando não tem ninguém pra sorrir, ela sorri pra ela mesma, de Maria pra Maria. Feito presente. 
O que se faz com a pobre feliz menina Maria? Faz nada não. Uma hora a vida ensina. Ou aprende com ela. Deus queira. 
E tudo vira Maria.