quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Das memórias

Ainda que meus olhos esqueçam tudo que vi pela vida, quando minha memoria não for mais capaz de vencer o tempo, que meu coração se lembre de tudo que vivi e me aqueça.
Ainda que nomes, rostos, rotinas, se embaralhem, que o sentimento bom ou ruim, permaneça.
De uns ou outros sorrisos, não faço caso de lembrar motivos. Mas que sorri, apenas.
Ainda que feliz ou infeliz, vivi. E que tudo, valeu a pena.
Que do meu coração, fiz caixa de lembranças, ao invés de deixa-lo empoeirar-se, numa gaveta.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Das nossas pequenas contraditorias verdades.

Aceito o que tens de diferente, pois com paciência, aceitastes meu papel de louca. 
Aceito tuas musicas incomuns, pois em silencio, aceitastes meus gritos descompensados.
Aceito tuas brincadeiras e teu lado infantil, pois vi teu coração de criança, pronto pra caber o mundo.

Não somos iguais.
E nessas diferenças, não nos completamos.
Mas aceitastes tudo que te irritava, enquanto eu aceitava tudo que me confundia. 

Deixo que digam, deixo que falem.
Pois enquanto eles vêem coisas além de ti, fico com o que me ensinastes a muito tempo - ver além das coisas.
E dentro de toda estranheza vemos, juntos, amor.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Sobre umas pequenas grandezas.

Sentou-se na calçada atrás da casa da Vó, calada e chorosa.Uma menina pequena e birrenta, antes cheia de vida, agora muda e com os olhos vermelhos de tanta tolice. Não queria conversa. Não queria doce da tia da venda. Não queria bolo quente que esfriava na mesa. O que queria ela, então? 
Chega o Vô do trabalho, beija com carinho a Vó, deixa as compras em cima da mesa de madeira e corre os olhos pela casa, em busca da pequena. Acha só os olhos da Vó, apontando para a porta. O velho suspira e sorri, como quem diz ir resolver o caso. Ela sorri com doçura de volta, corta um pedaço do bolo já quase frio, como quem diz que ele há de precisar disso. 
Ela é igual a mãe. E a Vó. Lembra o velho cheio de riso enquanto caminha pra porta carregando sua cadeira de balanço preferida, e em uma das mãos, um frio pedaço de bolo.
Se põe ao lado da menina, que olha calada para os pés, enquanto uma lágrima ou outra se estilhaça nos paralelepípedos da rua tão velha quando seu Vô. 
"Deixei ele ir, Vovô." Diz a menina, envergonhada e triste. 
"Tudo bem, filha."
"Ele não cantava mais, Vô. Eu não queria deixar ele ir. Mas ele não cantava mais."
"Tudo bem, filha." Repetiu com carinho, passando as mãos nos cabelos da pequena. 
"Eu abri a porta. Achei que ele fosse ficar feliz. Mas ele sumiu. Ele não voltou, Vô. Eu fiquei aqui, esperando ele voltar, e ele não voltou. Eu só queria ver ele feliz. Mas ele sumiu. Ele não gostava de mim, Vovô?"
O senhor olhou o céu bonito e azul, deu uma espiada para dentro da casa velha, a ponto de ver uma alegre senhora passando o café. Sorriu. 
"A gente não sabe, filha. Se eu fosse dizer, dizia que ele gosta. Mas não tem muita importância isso não."
"E então o que importa, Vô?"
"Importa se você gostava dele. Porque agora ele está feliz. Eu tô orgulhoso da minha pequena ter aberto a porta. Você deixou ele ser feliz. Isso chama amor, filha."
"Amor, vovô? Não quero amar, vovô. Amor deixa a gente triste." 
"Só se a gente não souber amar, mocinha. Ele não cantava. E estava triste. Doeu em você a tristeza dele, e o amor te fez abrir a porta. E toda vez que você ouvir um canto, vai ser seu amor cantando."
A menina levantou a cabeça. Olhou o céu clarinho e no fundo do coração ouviu um cantinho suave. Todos os cantos seriam pra ela agora. Seriam dela, mesmo que ela não visse. Sorriu. 
O cheiro de café invadiu a rua. 
"Vô, vamos cantar pra vovó? Ela fez bolo." Riu perspicaz a pequena enquanto corria cozinha adentro."
" Eu canto todos os dias, meu passarinho. Todos os dias." Disse o velho a si mesmo, enquanto trazia a cadeira.

Na mangueira ao lado, um alegre passarinho, cantava.


Sobre dois instantes quase eternos de raiva.

Chegou numa hora da madrugada que eu não conseguia mais chorar. Simplesmente não havia mais nada ali pra ser colocado pra fora. Eu havia chorado tudo, por tudo, fosse parcelado ou de uma vez, eu chorei uma vida inteira. E sequei. Sequei cada gota de tristeza do meu corpo, até que restasse uma raiva tão grande e tão profunda de mim, apenas de mim. Porque, olha, eu posso ser egoísta, e boba e dramática e ter todos esses bilhões de defeitos que eu já cansei de encarar no espelho todos os dias. Mas eu jamais botei a culpa em ninguém, além de mim. Se eu amei, foi por minha culpa. Se eu chorei, foi minha culpa. Se eu decidi ser feliz, foi por minha culpa. Cada lágrima que eu derramei, foi por não ter sido forte o suficiente. E a culpa é minha. E eu estou com raiva. Raiva por um coração tão meu, tão ridículo. Tanta raiva que eu não consigo chorar. Não mais. Uma raiva de mim. Por ser tão eu, por ser tão tudo. Por querer carregar o mundo, e tropeçar com o peso. E cair de cara, e cair no chão. E por gostar da vista. E ficar aqui. Caída. 


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Sentido. No sentido de ter e haver.

Cansei dos meus discursos prontos e das minhas frases feitas, que te dizia desesperadamente na esperança de te fazer entender que meu coração é teu. Ele é. E eu não quero partir para mais um infindável e cansativo clichê de como o amor me tomou o peito ou sobre o que essa maldosa distancia fez com a gente. Não vou. Não espere mais de mim declarações bobas ou chamados melosos, como quando te chamava de amor ou inventava milhões de apelidos fofos pra tentar criar uma cumplicidade que há tempo não tempos. Veja bem, não digo que não sinto mais, eu ainda sinto aqui tudo que eu sentia. A vontade de estar junto, de compartilhar, de ter uma rotina, de te ver todos os dias, está tudo aqui, talvez não perfeitamente como eu gostaria, mas aqui. E eu estou guardando tudo de melhor que posso te dar, se um dia, na minha volta estiveres, ainda, disposto a receber. 
Mas eu estou aqui. E você está ai. E parecemos tão cansativamente longe, que ficar te dizendo palavras perdidas em redes sociais e aplicativos não parece nem de longe, ser suficiente. Não pra mim, mas pra ti. Odeio aquela sensação de estar te deixando desconfortável com meus pedidos desesperados de atenção embutidos em um "Estou com saudade". Pois eu sei, você sabe, que eu sinto saudade todos os dias de quando havia um "nós". E esse desgaste de te tentar te lembrar o quanto é importante pra mim me saber importante pra ti, me consome e me tira a graça dos intermináveis dias que ainda preciso encarar sem tua presença. Porque não estas aqui. E eu não estou ai. E eu te amo com todo coração, mas não quero mais te falar sobre isso, porque sabes e eu acabo por cansar a nos dois repetindo juras, cujos ecos silenciam antes de chegar em ti. Eu estou aqui, amor. Pronta pra te ouvir e estar contigo. Mas enquanto não quiseres, nada posso fazer senão a estar aqui. À espera. Com todo meu amor.