quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Coisas da minha mãe.

Liguei pra minha mãe, angustiada. Cheia de coisa por dizer, cheia dos medos, das duvidas, das preocupações. Ela ouviu, paciente. E quando eu terminei de botar pra fora ela começou a falar sobre rios. E eu ri. "Mas mãe, se a vida é um rio eu tô me afogando." "Então te afoga, filha" ela disse.  Ri de novo, e ela riu, sobre o rio. Ela disse pra eu me afogar, porque eu precisava parar de me debater na superfície das coisas, do tempo. Eu devia me afogar, ir a fundo. "Esqueceu como você nada?" ela me perguntou. "Como eu nado?" perguntei, achando que o nada que ela se referia era o vazio de alguma coisa que eu me encontrava no momento. "Sim, você nada por baixo. Nunca foi boa em dar braçadas por cima da agua. Respirava, mergulhava e quando a gente via, estava lá na frente. Sumia em baixo da agua e depois aparecia, cheia de orgulho". Eu tinha me esquecido. Ela estava me lembrando de como eu nadava e dizendo que eu precisava imergir nesse rio. Por baixo. Mesmo pra baixo. Porque eu ia aparecer lá frente, hora ou outra. "Agora vai lá. Fostes criada nesse rio. Filha minha não desiste, nada." "Porque eu sou o rio" eu disse. "Claro que tu sorri, menina" Brincou com as palavras. Eu ri. Ela riu. E o riso fluiu.

Mais do menos da Maria.

Nossa Maria tem pensado na vida. E pensa que pensa mais na vida que a vida anda pensando nela. Pensa quando vê o quanto a vida não anda olhando pra ela. E por isso Maria anda cabisbaixa, esquecida, achando que a vida andou esquecendo de iluminar os dias de Maria. 
Maria andou pensando esses dias que tá na hora de mostrar outro lado de Maria. Que aquele lado todo mundo já viu. Quem sabe a vida cansou, e cansada virou as costas e por isso não sorri mais pra ela, se encheu de pergunta a Maria. Porque a Maria minha gente, sorriu e riu e morreu de mostrar os dentes, cheia de graça pra sem graça da vida. 
Mas sorri tanto é trabalhoso e cansa, né Maria?
É, a gente sabe. Ainda mais quando não tratam de notar a gente. 
Só que a Maria, de tanto "ignoramento",  de tanto pensar, se emburrou feito criança e trancou o sorriso pro lado de dentro.
Ah menina Maria, não se pode fazer tolice desse jeito não, que a vida também sabe ser birrenta. 
Mas não desiste não, Maria. Desiste não e mostra teu jeito de Maria, que a vida se apaixonada de novo, talvez. 
E aprende que dessa vida a gente só pode levar amor. E quando ela amarga, é só desculpa pra provar o doce do amor de Maria.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Sabe, o ano já está quase no fim. E esse ano foi tanta coisa. Pra mim, pra ti, pra nós dois. Ele termina totalmente diferente de como começou. Conseguimos deixar para trás toda aquela magoa. Toda aquela angustia. Verdade que ainda tem um pouco de medo do que vem pela frente. Mas é mais expectativa que medo, pra te dizer a verdade.
Se eu quero que dê certo? Quero mesmo. E muito. Quero poder te apresentar pro meus pais e dizer cheia de orgulho pra todos, olha, esse é o meu namorado. Quero status de apaixonada. Ver filme no cinema ou no sofá. Te visitar aos domingos. Levar pão de queijo pra comer com a tua mãe, minha sogra. Rir das tuas coisas com a minha cunhada, ou ver meu irmão te convencer a jogar video game com ele. Quero ser feliz contigo. Te beijar todos os dias e me despedir sabendo que te verei pela manhã, e que vais segurar minha mão sempre que caminhar ao meu lado. Quero isso. Espero por isso. 
Mas o que eu queria te dizer, antes que deixemos esse ano pra entrar no nosso ano de possibilidades, é que ainda que nada disso se realize, que ainda que nos tornemos meros conhecidos, que a tua mão apenas cumprimente a minha pelo caminho, ainda que nada do que esperamos aconteça, me fizestes feliz. E me fizeste diferente. 
Por tua culpa, sei o que esperar do amor. Porque sem querer, me ensinastes a não me contentar apenar em não querer ficar sozinha. Me fizestes ver como um grande amor pode ser, e que quando é amor, é suficiente. Me ensinastes a dar meu melhor pro amor. A acreditar, a merecer.
Mas que tudo, me fizestes ver que o amor é possível sim. Porque até antes de ti, eu confundia amor com outras coisas e me machucava. 
E eu sou mais que grata por me fazer notar o amor. Ainda que todo amor só seja eterno enquanto dure, eu te amo hoje. Com toda eternidade incerta do amanhã, eu tenho certeza do amor que sinto. E por isso, sou grata.
D. 


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Um infinito deserto
Cansado da própria imensidão.

Eis um retrato
do meu coração.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Consenso

Olha, eu tenho que te dizer que não posso fazer nada sobre a distancia tão grande. Não posso fazer nada sobre o tempo que ainda falta pra passar. Não posso fazer nada sobre tua solidão. Muito menos sobre as outras mãos que podem vir a segurar as tuas. Não posso fazer nada sobre a falta de interesse, ou sobre a preguiça. Não posso fazer nada sobre tudo que não conheço. Não posso sequer conhecer. 
Não há nada que eu possa fazer. 
E sinto te dizer, que nada podes fazer sobre meu coração que te quer. Não podes fazer nada sobre essa certeza de amor que tem - ainda que ainda só no meu, peito. Nada podes fazer sobre a minha saudade.
Nada podes fazer. 
Mas podes saber, que o meu amor é teu. Até onde não se pode prever.
A verdade é que eu fico olhando tua vida, trancada do lado de fora, na procura de algum espaço onde eu ainda caiba.
Te vejo construindo uma vida e te cercando de pessoas que não conheço ou que não me interesso, me perguntando se um dia acharei alguma brecha nesse teu novo circulo. 
 Mas eu não acho. E permaneço do lado de fora.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Sobre uns sonhos.

Acordar pela manhã, vestir aquela tua camisa listrada que eu tanto gosto, e ir encostar a cabeça no teu colo, enquanto assistes um desenho idiota qualquer, num dia preguiçoso de domingo.

Seria amor.
Seriamos.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Mãe,

Essa semana que passou foi difícil. Sua filha andou meio perdida da vida, do tempo, meio alheia tudo. Teve uns momentos de choro, mãe. Não sei se foi fraqueza, ou só um desabafo tremendo de quem tava com o peito pra estourar de coisa. Porque mãe, eu não sei. Eu olho pro céu e ele tem me parecido tão escuro! Pode ser culpa do frio, do tempo novo que muda e eu não me acostumo, mas mãe, eu me senti sozinha. E eu pensei em vocês ai, no papai com seus discos, no abraço briguento do mano, e eu quis teu colo mãe. Senti falta do teu olhar protetor sobre mim, das conversas silenciosas que sempre tivemos, onde nunca foi preciso um único suspiro pra saberes que tua filha não estava bem. 
Essa semana foi tão difícil mãe! E eu não pude te ligar, porque fiquei com medo do outro lado da linha, sentires o quanto eu não estava bem e se preocupar. Eu não quis te preocupar mãe, mas essa semana eu quis colo e você deve ter sentido. Eu quis deitar contigo naquela rede da sala, e me deixar embalar pelo calor do teu abraço e das historias tão cheias de risadas. Porque mãe, no meio do meu infinito pessimismo, sempre fostes a parte confiante de mim. Meu lado otimista. 
Essa semana pesou aqui dentro, mãe. E eu quis mesmo desistir disso tudo. Tive a impressão de que andei me afastando de tudo e de todos e já não sabia bem quem era eu nisso tudo. A solidão me abraçou, mãe, e eu não soube o que fazer.
Faltou coragem de ligar e dizer que a tua menina precisava de abrigo. Porque essa semana, ah mãe! Eu não consegui lidar. 
Pode ter sido o tempo. Te contei que tá frio? Eu quis ser cuidada, mãe. Eu precisei daquele calor que só acho no teu jeito bobo. Teu jeito tão único de ver tudo. Sempre achando soluções pra mim, como se tristeza nenhuma fosse maior do que a tua certeza que um dia tudo dá certo. 
Essa semana mãe, eu busquei em mim cada pedacinho teu. E te encontrei mais do que imaginava. Alem dos meus olhos, ou da cor dos meus cabelos, eu vi cada pedacinho de historia que me contava, cada musica que me entoavas fazer sentido. Colhi todos os teus conselhos mãe. E ando tentando ser melhor.

Eu não te liguei, mãe. Porque essa semana foi difícil, e eu quis fazer tua menina crescer. 

Com todo amor do mundo,
D.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O tempo é mal e anda com raiva. Mas ainda é o único que me abraça.

Sentido.

- Queria saber ser feliz na ausência.
- Tua ou do outro?
- Faz diferença?
- Faz?
- Faz.
- Talvez faça.
- Talvez?
- Se não tiver um talvez, então já podes ser feliz. Não acha?
- Talvez.
- É..talvez.
- Mas..
- Mas..?
- E se o talvez for a ausência?
- De certeza é. Isso eu sei.
- Com certeza?
- Eu acho.
- Então tá. Eu queria ser feliz no talvez.
- Teu ou do outro?
- Da vida.