segunda-feira, 28 de abril de 2014

Lixo.

A verdade é que você me sufoca. Sufoca ter tantas palavras pra te dar e ter que engoli-las a seco. Te ver me sufoca e me afoga. Me afogo no amor que não posso te dar.
A distancia aumenta a cada dia e isso me mata. Eu vou perdendo contato, teu tato, nossas lembranças.
Eu consigo me sentir sendo substituída na tua vida, de braços atados.
Te vejo em obras, modificando e me esvaziando dos teus espaços.
E eu vou gritando teu nome no vazio que vai ficando, e você só escuta os resquícios do que sentia por mim ecoando nas tuas paredes recentemente pintadas.
Porque a distancia me tira de ti cada vez mais.
E tudo que me sobra é me sufocar com a parte de mim que você ajudava a carregar.
E eu, que era tão tua, tenho que me receber de volta, vazia e perdida.

O que eu faço comigo, ainda sendo tua? 


terça-feira, 15 de abril de 2014

Nem sei.

Sei lá, é só como se eu não estivesse sendo eu longe de você, entende? Como se as coisas se perdessem no meio. 
Eu sou feliz e feliz e feliz. E me encho de sorrisos, até fazer ecoar minha risada. E tenho mãos pra segurar a minha, e abraços dados e recebidos.
E eu sou feliz. Mas eu não sou eu. 

Porque eu, de verdade, ainda não aceito não ter você no meio da historia. 
Como se você tivesse corrido com os pontos finais de toda escrita da nossa historia. E me obrigasse a continuar reescrevendo versões dos fatos onde você não existe. Cada qual vem com um conto e me presenteia com um ponto a mais. 

Mas o eu, da nossa velha historia, ainda continua aqui, perdido, talvez ultrapassado, mas à espera de você achar o caminho de volta e voltar com nossos pontos pra continuarmos na mesma linha.

E então fazermos sentido.

domingo, 6 de abril de 2014

Das cartas que nunca serão lidas.

Você provavelmente seguiu sua vida. Evita pensar em mim, ou lembrar que eu existo. Provavelmente apagou nossas fotos e a lembrança do meu sorriso. Me apagou e eu senti aqui. Juro que eu pude sentir. E sinto todos os dias. 

Sinto quando vejo cenas bonitas e quero correr pra te contar. E quando me lembro que não existe mais pra onde correr. 
Sinto quando quando tua voz me faz falta e quero te ligar. E me lembro que não existe mais numero pra o qual discar. 
Sinto quando me falta um abraço no final do dia e quero te encontrar. E me lembro que te perdi em alguma parte do caminho da qual não consigo mais te encontrar. 

E sabe. Você sempre teve razão em tudo. Sobre se fechar. Sobre não compartilhar. Sobre a hora de esquecer e continuar. E você conseguiu continuar. Porque você provavelmente não sabe disso, mas sempre foi mais forte que eu. Eu nunca consegui manter a boca fechada ou as mãos paradas. E quando foi preciso desistir, eu continuei. Eu sempre perdi o momento de parar. Eu e minha mania de regar jardins mortos que nunca florescerão novamente. 

Mas tem uma coisa que você não sabe. Hoje que tomei coragem e segui em frente. Você teria orgulho de mim. Hoje eu te deixei pra trás e mesmo morrendo de medo, eu não me virei pra olhar. Deixei tua imagem sorridente parada na esquina e continuei. 

Teu cheiro, tua voz, teu sorriso. Você por inteiro. Tuas memorias agora tem prazo de validade no meu coração. 
Te transformei num retrato pendurado na parede de mim. E que o tempo vai se encarregar de deteriorar.
E então a validade desse amor terá vencido. 
E terão se desfeito todos os laços invisíveis que havia.


Com mais amor do que eu queria que fosse, 
D.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Se deixe ir ao fogo.

Nunca tive muitos amigos ou sai muito de casa. Não era de brincar em parques ou encher a casa de pessoas ou passar o dia na rua, de modo que as recordações que tenho da minha infância são os livro que li.
Minha mãe é professora, apaixonada por literatura (e pasmem, gramática) e todos as semanas pegava livros emprestados na biblioteca da escola em que trabalhava, enchendo meu dia de historias.
Porque eu to falando sobre isso? Porque esses dias eu estive aqui remoendo meus medos e minhas inseguranças e sempre encontrando novas maneiras de cometer os meus mesmos erros de sempre. E então eu me lembrei de uma vez em que ela chegou em casa toda contente, depois de um dia cansativo com" seus meninos", como ela chamava seus alunos, e me veio toda sorridente com um livro, segundo ela, de seu autor favorito. 
Foi a primeira vez que eu li Rubens Alves. Era um livro azul, relativamente pequeno com apenas uma meia lua amarela na capa e o titulo "O amor que acende a lua".  É um livro de contos, e entre tantos contos, essa manhã eu acordei lembrando da historia da pipoca. 
Rubens Alves nos compara a uma pipoca. Nós, quando submetidos ao fogo, sentimos medo, e quando pensamos no que seria o fim, estouramos e nos tornamos aquela coisa macia e fofinha que chamam pipoca. 
(Quem me conhece, sabe o quanto metáforas me fascinam. Sempre consigo fazer as comparações mais malucas que se poderia pensar. E foi com essa que Rubens Alves me conquistou.)
Se engana quem pensa que a historia da pipoca para por ai! Ainda tem o tal do "Piruá". O milho medroso que se recusa a se abrir ao novo, e quando termina a alegria do estouro termina sozinho na panela e acaba no indo do lixo. 
Esta manhã eu acordei me sentindo mais piruá que pipoca. E fiquei com medo, do fogo estar começando a diminuir e eu nunca mais poder me tornar pipoca. 
E eu resolvi parar de sofrer e parar de rever tudo. Deixa passar. O que passou ja era, sofrer vai mudar? Pelo tanto que eu já me fiz sofrer, eu acho que nem preciso de resposta. 
E eu decidi deixar de lado. Só as tristezas e as coisas ruins que tomam meu tempo. Porque agora eu estou no fogo, e eu não quero perder as faíscas, a felicidade ou o burburinho do estouro.
Quero que me deem licença, porque a minha vida tá acontecendo agora. E eu preciso estourar. 



"Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á".A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira..." (Rubens Alves, A pipoca.)