domingo, 10 de maio de 2015

Lego 1991

As vezes eu penso que tudo foi obra de um grande senhor brincalhão que um dia, entediado, resolver brincar de lego com a minha vida. Peça pra cá e lá, encaixando uma coisa aqui outra ali, assim que eu imaginaria o destino, se ele fosse uma pessoa. 
Um senhor barbudo, bondoso e entendiado, que acaba de ganhar da esposa uma caixa de lego. E de volta a infância ele vai montando e desmontando minha vida. "Como tá isso, minha velha?" ele deve perguntar pra esposa vez ou outra, e ao notar um olhar de desaprovação, desanda a desconstruir toda de novo minha historia. 
Mas ele é um senhor bondoso, dependendo do dia. As vezes imagino que ele só queira encaixar uma coisa na outra, tudo certinho. Outras pra animar um dia chato, considero talvez que ele, por pura diversão, bagunça e tenta combinar coisas sem o menor sentido. Por enquanto acho que ele não tem muita ideia do que vai construindo, e vai colocando peça por peça pra ver o que sai no final. Mas ele é paciente, e aparentemente não muito afim de me deixar ser princesa num castelo. Creio eu que na cabeça dele passem ideias de grandes construções, apesar de ser um péssimo engenheiro. Espero mesmo que ele saiba o que faz. Ou se não sabe, nunca pare de ter vontade de colocar mais peças e ir aumentando esse sonho de produção mirabolante que seria a única justificativa pra ele fazer e desfazer minha vida já construída tantas e tantas vezes, como se buscasse a perfeição. 
Sei que nessa caixa deve ter vindo mais de um personagem, mas nessa historia que é minha eu sou a bola da vez. Vez ou outra ele tira um outro da caixa pra me fazer companhia no novo projeto do momento. Mas tenho pra mim que ele olha bem, analisa o casal, tira o personagem e me deixa reinando sozinha na historia. Espero que ele esteja esperando aparecer o bonequinho certo do meu lado, porque não acho que possa atuar nessa construção sozinha. 
Mas no fundo, no fundo, mesmo agoniada e angustiada, por defeito de fabrica, já que eu devo ter sido uma entre milhões e milhões de pecinhas fabricadas, eu acredito nesse senhor, chamado destino. Vá ver ele é um gênio arquitetônico e eu não sei, ou na pior das hipóteses, um velho louco brincando de deus. 

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