domingo, 28 de setembro de 2014

Os mudos também amam.

Eu deveria ter ficado calada. Eu deveria ter lido tudo aquilo que você me falava e ficado calada. Respirado fundo e dito a mim mesma que ia até ali a esquina e depois, calma, voltaria para te perguntar como tinha sido. 
Mas eu não fiquei calada. Porque eu nunca fico calada. Acontece que meu coração começou a querer sair pela boca e meus olhos se encheram de lágrimas mais rápido do que eu pude piscar e mesmo com aquele nó que se formou na minha garganta, minha cabeça ficou entupida daquelas frases horrorosas que desataram a sair feito uma chuva pela minha boca, e eu disse tudo aquilo. 
Eu deveria ter ficado quieta, e agido como a pessoa normal e sensata que eu não sou. E talvez eu não tivesse ultrapassado as barreiras da nossa forçada amizade e talvez, só talvez, tivéssemos ficado do mesmo jeito.
Mas eu falei. Mais do que eu queria e muito além do que o nosso contrato de amizade exigia.
E no meio das indesculpáveis coisas que eu te gritei, o meu amor foi sincero. E esse amor bobo e rouco que eu tenho no peito ainda me enche de palavras pra ti. 
Quebrei nosso trato, desfiz nossos laços. Mas ainda não me livrei por inteiro de ti. 
Te afastei com palavras que não podiam ser ditas e agora tenho que viver cheia daquelas que não suportam tua ausência. 
E agora, agora eu me obrigo ao silencio que deveria ter mantido, mesmo tendo um coração esperneando de vontade de te dizer coisas úteis, inúteis, ou fúteis, desde de que ditas a ti. 
Você não podia, nem queria, ouvir tudo que meu peito, inutilmente, tentava te dizer. 
Então eu, que coloquei todo meu amor em palavras, me calei.

Com todo amor entrelinhado,
D. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixaram anexado aqui: