domingo, 28 de setembro de 2014

Se.

O primeiro livro que eu lembro de realmente ter lido foi a Marca de uma Lágrima do Pedro Bandeira. Minha mãe que trouxe pra casa. Era um livro que ela havia lido quando era jovem e quando viu, achou que eu poderia gostar. Eu devia devia ter uns 10, 11 anos, sei lá. 
Eu fico me perguntando se todo esse meu jeito ridículo de ser não começou por ai. Porque livros moldam o pensamento, não moldam? E se ela tivesse me dado pra ler, não sei, uma coisa mais séria, mais comprometida com a realidade, nem que tivesse sido a Veja! Será, que não haveria a mínima possibilidade de eu ser uma pessoa emocionalmente diferente?
Porque eu lembro que depois disso, o negocio desandou completamente. Eu lia até aqueles romances meio eróticos de banca de revista, que ela costumava chamar de sub literatura. 
Eu me pergunto isso, porque eu não era assim. Até meus 12 anos eu era a única menina da familia. Três irmãos, infinitos primos. Eu lembro que eu detestava bonecas, porque se eu gostasse, eu brincaria sozinha. Eu gostava era de bolinha de gude, cards, roubar manga no vizinho, correr atrás dos moleques da rua. Eu era a valentona, estilo Monica, mas sem o vestidinho vermelho e o coelhinho. Eu era brigona e nada, nada feminina. 
Minha mãe sempre conta que desde de bebê eu jamais gostei de coisas no cabelo. E quem me comprava roupa era o meu pai, além de que ele mandava cortar meu cabelo num chanelzinho, que eu juro pra vocês, dava pra confundir com um menininho. Eu não era meiga, eu não era sensível, eu quase não era uma menina.
E hoje eu sou esse poço de sensibilidade, que chora desesperadamente, que rima amor com dor, num poeminha cafona ou que usa a palavra coração e amor quinhentas vezes numa frase. Que merda aconteceu comigo? 

Eu amo a minha mãe, mas custava ela ter me dado primeiro pra ler, sei lá, V de Vingança?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixaram anexado aqui: