domingo, 12 de fevereiro de 2017

Tenho andado fora de mim e acompanhado minha vida sendo apenas a sombra de um corpo que se move sem direção, sem condução. Vejo meu corpo sendo arrastado, saqueado, maltratado e não digo nada, porque sou apenas a sombra daquilo que um dia não cheguei nem a ser.  Não tenho voz porque não existo. Não vivo. E sobreviver é quase um fracasso diário, sem chegar nem ao menos perto de uma tentativa decente de ser. Os dias passam constantemente me ultrapassando, porque esse corpo inútil ao qual estou atada e obrigo-me a chamar de meu, se arrasta, carregado de fracassos. É difícil caminhar quando se tem anos de tristeza pesando sobre ombros que mal suportam o peso do mundo, quanto mais o peso de sua própria cabeça. 
Como sombra, apenas observo e absorvo a inutilidade, a incapacidade do corpo que perdura dias a fio sem razão de ser. Há dias que observo o corpo caminhar em direção a pequenos barulhos de humanidade, como se mesmo sem controle, algo dentro dele o fadasse a sobrevivência e me aflijo. Como sombra tenho medo de qualquer sinal de luz. Tenho medo de que as pequenas possibilidades de luz que me assombram sejam mais forte que eu e me obriguem a tomar posse, mais uma vez, desse corpo que sigo.
Não sou. Não quero ser. Não quero O ser. Quero apenas a invisibilidade da sombra. Onde observo e nada me atinge, porque nada sou. 



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