segunda-feira, 27 de julho de 2009

Mais um ponto.

Por onde andava ela? Era essa a pergunta que embalava meus sonhos naquela madrugada. Dormia com o celular ao lado. O despertar pontual, nunca me fizera chegar atrasado ao trabalho. E quando ele tocou aquela madrugada, supondo que era hora de despertar, procurei ansioso o botão de desligar. Foi quando meus olhos ainda embaçados pelo sono, leram( Ou adivinharam?) O nome dela. Atendi, e com um misto de raiva e curiosidade por ser acordado aquela hora - Que horas seriam? - Ouvi sua voz trêmula do outro lado da linha sussurar.

- Tive aquele mesmo sonho outra vez. Aquele mesmo tormento, sempre! Mês após mês. Tenho que por um ponto final nessa história. Senão acho que não vou aguentar. Vem comigo? Preciso de você. Te pego às nove.

Clara. Sempre a Clara.

A mesma Clara que sabia que não precisa pedir minha opnião. Ela sabia que eu estaria lá. Às nove, à sua espera. E eu sabia que tinha que estar com ela. A quanto tempo isso vinha acontecendo? alguns meses? talvez um ano? Assim como ela confiava em mim, sabia que uma hora ou outra decidiria vê-lo. Não aguentaria muito mais tempo aquela angustia, aquele tormento que pairava sobre sua cabeça.

Clara. Pobre Clara.

Naquela manhã, eu, sempre pontual, me atrasei. Perdido em pensamentos, fitava meus olhos fundos, da noite mal dormida, em frente ao espelho quando ouvi a buzida. Peguei minhas chaves, meu celular, dei uma última e rápida olhada no espelho a minha frente e fui.

Do lado de fora, o sol forte parecia fazer seus cabelos vermelhos brilharem. Mas o que doia meus olhos era ver seu olhar perdido, todo brilho do dia parecia sumir diante daqueles olhos claros de uma beleza triste. Entrei no carro, ela fingiu supresa, a mesma que eu não precisa fingir diante daquele sorriso ensaiado. Vazio. Forçado. Que ela tentou sem sucesso lançar pra mim.
Enquanto o carro seguia, tentei dialogar com o silêncio que pairava entre a gente. Faltaria muito? Estaria muito longe?
E como se lesse meus pensamento ela sussurou "E logo ali."

Estacionamos num bosque tranquilo. Tranquilidade que me lembrava a morte.
Clara seguia na frente, imersa em pensamentos, e eu logo atrás, observando a paisagem, e ansioso pra ver onde aquilo ia dar. Até esbarrar com ela, que eu não notara, havia parado.

Segurou minha mão com firmeza, a mesma firmeza de quem pede socorro. Coragem pra seguir em frente. E ela seguiu. Com os olhos marejados, a batida de seu coraçao acelerada, ela se ajoelhou sobre um túmulo, branco, rodeado de amarelos girassois que agoram eram regados a suas lágrimas. Clara perdeu-se em sua dor. Em sua angústia.

Me aproximei, e ao colocar minha mão em seu ombro, vi que naquela pequena sepultura, havia apenas uma data. De um nascimento.

O amor havia nascido. E foi enterrado vivo. E ainda vivo, permanecia.


A brincadeira nasceu com a Fernanda, Passou pela Aline e pelo Antonio e é a vez da Mari continuar.

3 comentários:

  1. "E foi enterrado vivo". Uma mudança tão sutil de palavras, mas me parece tão mais doloroso assim.

    Gostei!

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  2. Obrigado. Pelas palavras e por ter a chance de participar de uma brincadeira encantadora! xD

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